sábado, 19 de março de 2011

O horror na sua melhor forma



Não existe escritor mais cinematográfico hoje do que o norte-americano Stephen King, famoso por suas histórias de suspense e terror. Seu nome já deve estar cravado no Guiness Book como o autor que teve mais obras adaptadas para o cinema. Inevitavelmente, o saldo é irregular, de obras-primas como ‘O Iluminado’ a desastres que nem merecem a citação. Numa época em que o terror é dominado por produções orientais e refilmagens, é gratificante que o melhor filme do gênero nos últimos anos seja uma adaptação desse mestre das letras.
‘O Nevoeiro’ é a terceira parceria entre o diretor Frank Darabont e Stephen King. As duas primeiras adaptações, ‘Um Sonho de Liberdade’ e ‘À Espera de um Milagre’ foram consideradas transições das mais fiéis, mostrando que o cineasta é, acima de tudo, um grande admirador e conhecedor da obra do escritor. Do primeiro filme, uma história mais humana, ele passou a outra com toques fantásticos, preparando terreno para ingressar no campo onde o escritor tem mais domínio: o do medo.
A ideia-base é aparentemente simples: em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, uma misteriosa névoa baixa repentinamente, sem maiores explicações. A constatação de que há algo misterioso e terrível no nevoeiro faz com que um grupo de habitantes se isole dentro de um supermercado. Além do desafio de lidar com algo sobrenatural, vai nascendo aos poucos uma luta interna, alimentada pelas divergências entre as pessoas.
A trama se fundamenta em dois personagens-chaves. O primeiro é David (Thomas Jane), artista plástico acompanhado do filho pequeno, que logo assume a condição de líder. O segundo é a sra. Carmody (Márcia Gay Harden, em atuação excepcional), uma fanática religiosa que vê na ira divina a explicação para o terrível fenômeno. O conflito entre essas duas correntes, da racionalidade e da religião, faz com que a tensão gerada pelo misterioso nevoeiro só se acentue e piore as conseqüências.
O que faz de ‘O Nevoeiro’ um filme tão espetacular é a capacidade de ir além de assustar o público. Em termos de suspense, Darabont consegue cumprir sua função com rara competência. Dispensando grandes efeitos especiais, aposta no clima de tensão permanente, alimentado em grande parte pelo imaginário do espectador. Entre algumas criaturas escatológicas e uma quantidade relativamente pequena de sangue, o terror se instala mais na mente que aos olhos.
Se fosse apenas uma boa história assustadora já estaria de bom tamanho, mas o diretor vai além. Com tipos peculiares, cria-se um conflito humano de proporções avassaladoras, uma representação dos níveis de descontrole e insensatez a que se pode chegar diante de uma situação que beira o caos. Amedrontador desde os primeiros minutos, ‘O Nevoeiro’ reserva um final chocante e surpreendente, não muito comum ao cinemão comercial. Um desfecho digno para uma obra que, com todas as honras, faz jus ao termo horror.

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