sexta-feira, 18 de março de 2011

Arte que compensa o crime



A trajetória de Ridley Scott é no mínimo curiosa. Entre o final da década de 70 e começo da década de 80, dirigiu duas obras-primas do cinema, ‘Blade Runner – O Caçador de Andróides’ e ‘Alien – O 8º Passageiro’. A grandeza desses dois trabalhos poderia colocá-lo na esteira de mestres da cinematografia contemporânea, como Martin Scorsese e Francis Ford Coppolla. Porém, o que se viu depois disso foi uma seqüência de filmes que transitam entre o mediano e o medíocre, ainda que um deles (‘O Gladiador’) tenha lhe rendido um Oscar. ‘O Gangster’ pode não estar no patamar de suas duas obras maiores, mas resgata um pouco da dívida que Scott tinha com os amantes da sétima arte. É, sem sombra de dúvida, seu melhor filme em muito tempo.
Como já diz o título, ‘O Gangster’ envereda por um gênero que rendeu produções notáveis, o dos filmes que retratam grandes chefões do crime organizado. É curioso observar que os principais diretores contemporâneos têm pelo menos uma obra marcante nessa linha: Brian de Palma com ‘Scarface’, Coppolla com a série ‘O Poderoso Chefão’ e Scorsese com ‘Os Bons Companheiros’ e ‘Cassino’. São bem nessas fontes que bebe Ridley Scott para contar sua história.
Uma história real, diga-se de passagem, e com algumas peculiaridades. O personagem principal é Frank Lucas (Denzel Washington), que entre as décadas de 60 e 70 se notabilizou no universo do crime por duas razões. Uma delas por se tornar o primeiro chefão criminoso negro, após herdar um império de seu padrinho e conquistar ascensão meteórica com um estilo bem próprio. A outra foi a criação de um modelo ultra-organizado para traficar drogas, que lhe garantiu o título de ‘Rei da Heroína’, desbancando os demais grupos mafiosos da época.
Do outro lado, o da lei, Lucas tem em seu encalço o detetive Richie Roberts (Russel Crowe), policial que se destaca por ser um dos poucos incorruptíveis da corporação. A ele é delegada a missão de comandar uma força-tarefa exclusiva para desmantelar o promissor esquema de tráfico de drogas. Não bastassem os criminosos, ele vai bater de frente com a ala corrupta da polícia nova-iorquina, que contribui para o sucesso dos negócios ilícitos.
São dois universos colocados em oposição. De um lado o do crime, marcado pelo luxo, pelo glamour e pela imponência de Frank Lucas. Do outro o da lei, onde um Richie Roberts mergulhado em uma vida familiar desestruturada busca forças para se sobressair em meio à podridão do sistema. Até certa altura pode-se dizer que Ridley Scott faz uma estilização do crime, mas logo se firma um tom moralista, pregando a velha máxima de que ‘o crime não compensa’.
O diretor faz um verdadeiro passeio pela história dos filmes de gangster, deixando nítidas referências às principais obras do gênero. A direção de arte, a trilha sonora, a edição, tudo contribui para uma narrativa épica bem estruturada. Mais apropriação do que novidade, ao menos resulta em uma produção que faz jus ao estilo. Ah, sim, e ainda temos Denzel Washington e Russel Crowe, protagonistas de um embate na lei e um duelo interpretativo.

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