sábado, 19 de março de 2011

Um novo cinema de ação



Chegamos a tal ponto no cinema que surpreender o espectador é uma tarefa quase que inexequível. Hoje em dia, nada mais é impossível de se colocar na tela, dada a alta tecnologia capaz de produzir os mais inimagináveis efeitos especiais. Os truques narrativos já foram tão explorados que nos acostumamos até a acompanhar histórias contadas de trás para frente. Quando alguém consegue renovar um gênero tão batido e previsível como o de ação, temos que ao menos reconhecer e bater palmas. E confesso que nunca um filme de ação me surpreendeu tanto positivamente como ‘O Ultimato Bourne’.
O filme encerra a trilogia iniciada por Doug Liman em 2002 com ‘A Identidade Bourne’ e completada em 2004 por ‘A Supremacia Bourne’, este já nas mãos de Paul Greengrass, responsável pela última seqüência. A trama é ao mesmo tempo simples e complexa: no primeiro filme, Jason Bourne (Matt Damon) é resgatado semimorto e desmemoriado em alto mar. A partir daí ele começa a tentar descobrir quem é, numa trama que envolve assassinatos, espionagem e organizações internacionais.
‘Ultimato’ encerra o mistério intensificado nos dois primeiros filmes, com Jason Bourne finalmente descobrindo sua real identidade e como se transformou em um temível assassino profissional. Até que se chegue a isso, porém, o espectador vai passar por minutos de intensa adrenalina, perseguições, mistérios e reviravoltas. Quando você conseguir recuperar o fôlego, é bem provável que já estejam subindo na tela os créditos finais.
Paul Greengrass foi alçado à condição de estrela neste ano, quando recebeu uma indicação ao Oscar por seu trabalho arrebatador em ‘Vôo United 93’. Quem assistiu sabe do que se trata: reconstruindo uma história supostamente real, o diretor fez um thriller de tensão permanente, mostrando a luta de passageiros de um avião para tentar sobreviver a um ataque terrorista. Com uma nervosa câmera na mão e uma edição extremamente ágil, mergulhou o espectador em uma jornada intensa e vertiginosa.
Pois em ‘Ultimato’ o diretor faz a mesma coisa, mas dessa vez intensificando a dose, transferindo todo esse clima para uma história policial. Perseguições, explosões, brigas e tiroteios são colocados em um ritmo frenético e hipnotizante, que não deixa desgrudar os olhos da tela. A abertura do filme, com uma perseguição no metrô, emendada com a seqüência em que Jason Bourne tenta salvar um jornalista, está entre os momentos mais alucinantes vistos na tela grande nos últimos anos.
Diferente de muitos de seus contemporâneos, Paul Greengrass consegue promover um espetáculo visual e sonoro sem se descuidar do roteiro. Em momento algum a história cheia de descobertas, surpresas e reviravoltas é deixada de lado. Além dos sentidos, o diretor também aguça o raciocínio do espectador. Greengrass consegue a proeza de unir influências de mestres do cinema de ação, como William Friedklin e Sam Peckimpah, e moldá-las ao seu próprio estilo. Goste-se ou não, sua obra já se tornou um marco e uma referência para as próximas gerações de cineastas.

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