sexta-feira, 18 de março de 2011

Sem coelhos na cartola



Diz um velho ditado que o bom mágico não revela seus truques. Por isso mesmo, os segredos que envolvem essa profissão são guardados a sete chaves e atiçam a curiosidade de todo ser humano. Ninguém melhor do que Cristopher Nolan, diretor do sensacional e intrigante ‘Amnésia’, para perceber que esse poderia ser um mote interessante para um filme. Pena que o resultado dessa iniciativa, ‘O Grande Truque’, acabou não ficando à altura dos espetáculos proporcionados por Harry Houdini e seus discípulos.
Com o perdão do trocadilho, quem não se lembra de ‘Amnésia’, filme que em 2000 causou frisson ao narrar, de maneira prodigiosa, uma história de trás para frente? Essa obra colocou Nolan como um dos nomes mais promissores do cinema atual, que posteriormente mostrou serviço no competente ‘Insônia’ e no blockbuster ‘Batman – O Retorno’. Com sua narrativa não-linear e armadilhas de roteiro, ‘O Grande Truque’ reaproxima o cineasta de sua primeira obra, novamente em tom de desafio ao espectador.
O filme conta a história de dois mágicos na virada do século 20, Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Border (Christian Bale). Eles iniciam suas carreiras como parceiros na mesma companhia, mas um trágico acidente acaba por transformá-los em rivais. Cada um segue seu caminho, buscando o sucesso no mundo da magia, mas sempre com um objetivo maior: superar o adversário. Entre idas e vindas no tempo, Nolan acompanha a guerra travada entre os dois mágicos, que inclui estratagemas para criar novos truques, descobrir o segredo do adversário e até mesmo invadir sua vida pessoal.
Talvez até mais do que um filme sobre mágica, ‘O Grande Truque’ é uma história sobre obstinação. O que vemos são dois personagens de características diferentes, mas cuja vida é guiada cegamente pela obsessão em ser o melhor. E aí reside um dos pontos falhos do filme, a incapacidade de aprofundar-se na personalidade da dupla principal. Jackman e Bale, atores bastante competentes, até que se saem bem, mas a falta de um roteiro mais consistente acaba por prejudicá-los.
Aí chegamos ao segundo problema: Nolan prefere se concentrar nas reviravoltas da trama, colocando-se também como um mágico empenhado em surpreender a platéia a cada pedaço de filme. A estratégia até que funciona bem até certa altura, mas à medida em que se aproxima do fim, a dose passa a ser exagerada. Como na estratégia do mágico, de iludir o espectador e desviar o foco de sua atenção, o diretor aponta para muitas direções e acaba por confundir demasiadamente. É como naqueles videoclipes em que há tanto movimento que, quando termina, você fica se perguntando o que aconteceu.
De todo modo, há de se destacar a impecável parte técnica, com destaque para a direção de arte e a fotografia, merecidamente indicadas para o Oscar. Ainda no quesito visual, há Scarlett Johanson, que a cada filme comprova que sua beleza é diretamente proporcional à sua inexpressividade. Por outro lado, quem faz uma participação bastante especial é o cantor David Bowie, que andava afastado das telas e reaparece em ótima forma como um misterioso inventor. Como é possível notar, Cristopher Nolan até reservou uns truques interessantes, mas dessa vez não conseguiu achar um coelho para tirar da cartola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário