sábado, 26 de março de 2011

Desastre virtual



Quem vivenciou os anos 80 e foi um apreciador dos videogames certamente nunca esqueceu de ‘Tron – Uma Odisseia Eletrônica’. No início da década, quando os efeitos em computação gráfica que vemos hoje na tela eram coisa de outro mundo, a história do homem que entrou em um jogo eletrônico e viveu aventuras virtuais impactou toda uma geração. Se não era nenhuma obra prima cinematográfica, o filme virou cult por conta do visual marcante e por se tornar um marco no uso da computação. Como criatividade é artigo de luxo no cinema atual, os produtores tiveram a grande ideia de animar os saudosistas e apresentar mais um ícone de tempos passados à geração atual. Nascia ‘Tron – O Legado’, mais um desastre da safra 2010.
Quem assistiu ao primeiro ‘Tron’, de 1982, lembra que havia apenas um fiapo de história, suficiente para mergulhar o espectador em um cenário de lutas e corridas parecido com o que nos divertia nos fliperamas da vida. Em síntese, o programador Kevin Flynt (Jeff Bridges) caía em um mundo virtual, onde lutava contra guerreiros em trajes futuristas. Este novo filme começa em 1989, quando Kevin desaparece misteriosamente e deixa o filho Sam ainda pequeno.
Saltando para os dias atuais, Sam é um jovem rebelde (vivido por Garrett Hedlund), que vive a sabotar a própria companhia do pai, disponibilizando seus games na internet gratuitamente. Ao descobrir o velho escritório de Kevin, o rapaz ingressa no mundo virtual visitado anteriormente pelo pai. E lá viverá mais uma série de aventuras, lutando contra uma frente maligna. Não é preciso ser nenhum gênio para adivinhar que ele também encontrará o pai (o mesmo Jeff Bridges) e uma garota disposta a ajudá-lo.
Há 28 anos, quando cinema ainda era feito no braço, ver na tela grande um filme à base de computação gráfica era uma experiência e tanto. Hoje, em tempos de ‘Avatar’, é preciso muito mais para surpreender o espectador e pelo menos distraí-lo visualmente. A única coisa de empolgante que o estreante diretor Joseph Kosinski consegue produzir em quase duas horas é a famosa corrida de motos, que suspende por alguns minutos a sequência de bocejos. De resto, um cenário kitsch, cenas de ação manjadas e efeitos especiais que não chegam a encher os olhos como anunciado.
Tudo isso ainda poderia ser salvo se o roteiro ajudasse um pouco. Mas não. A narrativa é insossa, os clichês se amontoam um após o outro e as interpretações são tão expressivas quanto as da novela ‘Mutantes’, da Rede Record. O diretor até procurou inserir referências a obras como ‘Blade Runner’, ‘Matrix’ e ‘Laranja Mecânica’, que seriam interessantes se não fossem uma mera tentativa de dar um ar blasé à trama boba. 
Por fim, aquela que talvez seja a maior das frustrações: a propalada projeção em 3D. Antes de iniciar o filme, o espectador já é avisado que apenas algumas cenas são em três dimensões. Pouquíssimas, raras, que não fazem diferença alguma nos reais que se paga a mais pelo suposto adicional. E o que poderia salvar a diversão apenas joga a pá de cal nesse falido ‘Tron’.

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