quarta-feira, 9 de março de 2011

As aparências não enganam

Um Oscar sem injustiças certamente não é o Oscar. Por mais qualidade que tenha a seleção final, sempre existem aqueles nomes que deveriam ao menos estar entre os indicados ao prêmio máximo do cinema. Em 2009, quando se registrou uma das mais fracas seleções de candidatos dos últimos anos, o grande injustiçado atende pelo nome de Clint Eastwood. O veterano, habituée das listas da Academia, tinha dois grandes filmes que davam de dez em qualquer um dos indicados a melhor filme: ‘A Troca’ e ‘Gran Torino’. Teve de se contentar com uma indicação a Angelina Jolie e outras duas técnicas para o primeiro filme (todas justíssimas, é bom que se diga).
De ‘Gran Torino’ falaremos em um futuro próximo. Nosso foco agora está em ‘A Troca’, um suspense-drama de época que não foi tão bem recebido pela crítica. A observar que quando se analisa a recepção da crítica aos filmes de Eastwood, existem critérios diferenciados. Dizer que ele não foi muito bem recebido equivale a classificá-lo ‘apenas’ como um bom filme, não inesquecível como ‘Os Imperdoáveis’, ‘Menina de Ouro’ ou ‘Cartas de Iwo Jima’.
Baseado em uma história real passada no final da década de 1920, ‘A Troca’ retrata o drama de Christine Collins (Angelina Jolie), mãe solteira que trabalha como telefonista para sustentar o pequeno filho. Quando o garoto some, a polícia não dá muita atenção ao caso, mas cinco meses depois diz tê-lo encontrado. Para surpresa da mãe, o menino que lhe é entregue não é seu filho, apresentando uma série de diferenças. Preocupada em limpar a imagem de corrupta, a polícia não dá ouvidos às suas reclamações e faz o possível para calá-la. Com a ajuda de um pastor presbiteriano (John Malkovich), ela enfrenta o sistema para tentar comprovar que houve um grande equívoco e/ou armação. Uma trama paralela vai revelar o que aconteceu de fato e promover a grande virada na história.
Independente de suas virtudes e defeitos, ‘A Troca’ já pode ser considerado um marco na carreira de Clint Eastwood. É a primeira vez que o diretor, que ao longo de sua carreira personificou o estereótipo durão, algumas vezes usando até de um certo tom machista, coloca uma mulher como protagonista. Ok, ‘Menina de Ouro’ era protagonizado por uma mulher, mas a história desvelada pelos olhos de seu treinador. No novo filme, tudo gira em torno da personagem de Angelina Jolie, que de forma brilhante incorpora a fragilidade que aos poucos vai se transformando em força motriz.
Eastwood é um cineasta à moda antiga. Sua preocupação maior é contar uma história envolvente com começo, meio e fim, sem pirotecnias, malabarismos de câmera ou roteiros intricados. ‘A Troca’ cumpre todos esses requisitos, com direito a uma belíssima fotografia, direção de arte exuberante (recriando a Los Angeles do início do século passado) e um roteiro enxuto, que sabe guardar as viradas para os momentos certos. O suficiente para que um filme abaixo da sua média esteja anos luz da produção geral. O que faz do velho Clint um professor da sétima arte.

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