terça-feira, 1 de março de 2011

Os dois lados da guerra


Imagine um cineasta que idealiza um filme sobre determinado assunto. Ao iniciar a pesquisa sobre esse tema, descobre um outro lado da história, igualmente interessante. O que ele decide fazer? Tentar condensar os dois pontos de vista na mesma produção? Negativo. Simplesmente resolve realizar dois filmes simultaneamente, cada qual abordando uma versão dos fatos. Poucos diretores teriam cacife para levar essa ousadia a frente e um deles é Clint Eastwood, cuja carreira dispensa maiores comentários. Mais impressionante do que isso é constatar que sua empreitada se traduziu em dois filmes distintos, complementares e geniais: ‘A Conquista da Honra’ e ‘Cartas de Iwo Jima’.
Ambos os filmes tratam da batalha de Iwo Jima, uma ilha japonesa pequena e pouco habitada, mas de grande importância estratégica na Segunda Guerra Mundial. A tomada do local pelas tropas norte-americanas foi um dos episódios mais sangrentos do conflito. ‘A Conquista da Honra’ conta a versão dos americanos, mais precisamente das causas e conseqüências de um ato simbólico que tomou dimensões maiores do que a vitória em si. ‘Cartas de Iwo Jima’, por sua vez, mostra o lado dos japoneses, em sua heroica tentativa de resistir ao poderio infinitamente superior dos adversários.
O foco principal de ‘A Conquista da Honra’, é quando, após a tomada da ilha, um grupo de soldados fincou a bandeira americana no território inimigo. O episódio rendeu uma das fotografias mais famosas da história e serviu para o governo norte-americano promover a guerra. O filme acompanha três desses soldados que, logo após o feito, retornam aos Estados Unidos para servirem de garotos propaganda do governo. Entre idas e vindas no tempo, são retratadas as circunstâncias em que se deu o episódio e como ele afetou a vida de seus protagonistas.
‘Cartas de Iwo Jima’ começa dias antes da batalha, quando os japoneses se preparam para enfrentar as tropas norte-americanas. Tremendamente inferiorizados em soldados e armamentos, os orientais vão aos poucos sentindo a derrota e a morte iminente, mas nem por isso se eximem da luta. Os sentimentos de heroísmo, desesperança e conformismo são personalizados em duas figuras: o general Kuribayashi, com a espinhosa tarefa de comandar a missão, e o soldado Saigo, que só pensa em voltar para casa e os braços da mulher.
Pode-se dizer que ‘Conquista’ começa onde termina ‘Cartas’. Por isso mesmo são filmes que se complementam. O primeiro faz uma reflexão sobre o conceito de heroísmo, o que realmente são e para que servem os heróis. Mesmo sendo dirigido por um norte-americano, em momento algum cai no ufanismo exacerbado. O segundo retrata um povo movido pela bravura, mas que tem as mesmas angústias e sentimentos de quem está no outro lado do campo de batalha.
Em comum entre os dois filmes estão as sangrentas cenas de batalha e o libelo pacifista. O contraponto entre violência e ternura é justamente a arma usada por Eastwood para mostrar quão estúpida é a guerra. Juntos, ‘A Conquista da Honra’ e ‘Cartas de Iwo Jima’ compõem uma inesquecível experiência cinematográfica e humana.

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