sábado, 12 de março de 2011

Duelo de gigantes


Ron Howard. Você pode não se lembrar desse nome, mas certamente já assistiu a algum filme dirigido por ele. Dos clássicos da sessão da tarde ‘Splash’ e ‘Cocoon’ ao ultrabadalado ‘O Código da Vinci’, passando pelo melodrama ‘Uma Mente Brilhante’, ele sempre está na vitrine das grandes plateias. É o tipo de cineasta que Hollywood adora e pelo qual não nutro grande simpatia: consegue sempre fazer filmes vendáveis, acessíveis ao grande público, abusando das fórmulas convencionais e quase zero de ousadia. Mas ainda que não sejam geniais, esses caras até que acertam de vez em quando. ‘Frost/Nixon’, por exemplo, está longe de ser um filme desprezível, como o público parece tê-lo (des)qualificado.
Dos cinco indicados ao Oscar de melhor filme deste ano, ‘Frost/Nixon’ foi o patinho feio. Não conquistou nenhum prêmio, passou sem impacto (nem positivo, nem negativo) pelos críticos e ainda mais despercebido nas bilheterias. No Brasil, a desculpa pode ser a falta de interesse por um tema essencialmente norte-americano. O que não se justifica, já que não se trata de uma aula de história, mas de um filme sobre pessoas, algo muito mais universal do que se imagina.
Como resume o título, estamos diante do embate entre duas conhecidas personalidades. De um lado, o ex-presidente norte-americano Richard Nixon (Frank Langella), que acabara de renunciar ao cargo, derrubado pelo escândalo Watergate. De outro, o jornalista inglês David Frost (Michael Sheen), uma celebridade em seu país como homem de entretenimento, pouco afeito a temas ‘sérios’. Para ganhar credibilidade e respeito de vez, Frost oferece uma longa entrevista ao ex-presidente. Para resgatar sua imagem e salvar suas finanças, Nixon aceita.
A entrevista entrou para a história como o julgamento que Richard Nixon nunca teve, já que recebeu o perdão de seu sucessor, Gerald Ford, e escapou dos tribunais. Além de o ex-presidente admitir publicamente os atos cometidos em sua gestão, a confissão também surpreendeu por ter sido arrancada de alguém tido como ‘vazio’ até então. O crescente embate entre os dois, como em uma luta de boxe, é o mote do filme, focado quase que unicamente nos seus protagonistas.
O Nixon vivido por Langella é assombroso. Ainda que se conheça pouco ou nada do ex-presidente, é impossível não se impressionar com sua imponência, que aos poucos vai definhando nas suas demonstrações de humanidade. Somente a sequência final, quando Nixon é derrotado diante das câmeras, seria merecedora do Oscar que o ator perdeu para outro político, o Harvey Milk de Sean Penn. Ainda que não tenha tanto brilho, Michael Sheen também mostra competência como seu opositor e, se não está à altura, não se deixa ser engolido em cena.
Para lembrar que estamos diante de um filme de Ron Howard, ‘Frost/Nixon’ tem seus furos no roteiro, com alguns diálogos que parecem ter sido escritos apenas para encher linguiça. Mas não sejamos tão perfeccionistas. Quando os dois protagonistas entram juntos em cena, o jogo está ganho para o diretor. O resto é perfumaria.

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