Não há como negar que Jason Reitman possui uma série de predicados. A começar pelo sobrenome, afinal não é pouca coisa ter como pai o cara que fez ‘Os Caça Fantasmas’ e ‘Irmãos Gêmeos’ (o diretor Ivan Reitman). Seus dois primeiros filmes, ‘Obrigado por Fumar’ e ‘Juno’, são inteligentes e divertidos. Até mesmo sua feição é das mais simpáticas, passa a impressão de ser aquele sujeito extremamente gente boa, que vai sempre te divertir quando estiver ao seu lado. Analisando friamente, creio que esse excesso de simpatia é o que acaba nos salvando de ver ‘Amor Sem Escalas’ como ele realmente é, um filme até palatável, mas que no fim se mostra tão saboroso quanto uma sopa de chuchu.
Com o ímpeto da juventude, Reitman mostrava em sua estreia um talento promissor. ‘Obrigado por Fumar’ era uma comédia ácida, mas sem os radicalismos que transformam esse tipo de filme em um conjunto de piadas internas. No filme seguinte, ‘Juno’, o diretor encontrou a fórmula mágica que o permitiu ingressar no mainstream e ser abençoado pela crítica. Apesar de não ser tão genial quanto alguns apregoaram à época de seu lançamento, era uma produção bastante digna enfocando a juventude.
Veio então a prova de fogo do terceiro filme. Com o respaldo de um grande estúdio e a expectativa alimentada pelos críticos, partiu para a adaptação do livro ‘Amor Sem Escalas’, de Walter Kim, que retrata a história de um sujeito cujo lar é a trinca aeroporto-avião-hotel. Para personificá-lo um nome incontestável: George Clooney, galã a toda prova e ator de primeira linha. Apenas sua presença já dá ao filme um ar respeitável, mas após assisti-lo, fica a convicção de que não há ninguém no mundo tão adequado ao papel.
Clooney é Ryan Bingham, profissional com uma tarefa da qual poucos se orgulhariam: ele é responsável por percorrer empresas demitindo funcionários. Com a atividade em alta nos tempos de crise, ele não poupa modéstia para afirmar que é o melhor naquilo que faz. Viajando os Estados Unidos constantemente com o lema de que consegue carregar tudo o que precisa em uma mala de mão, tem como grande objetivo de vida atingir dez milhões de milhas voadas. Para quê exatamente nem ele sabe direito.
Seu mundo começa a virar de pernas para o ar quando ganha como colega de trabalho a jovem Natalie Keener (Anna Kendrick, revelada na série ‘Crepúsculo’), a qual apresenta uma revolucionária técnica de demissão através da internet. Ou seja, pode ser o fim da rotina nômade de Ryan. Paralelamente, ele conhece Alex Goran (Vera Farmiga), profissional que leva o mesmo estilo de vida e com quem se envolve casualmente. A partir daí é aquilo que se imagina, um jogo de contrastes entre formas diferentes de encarar a vida, a profissão e o mundo atual.
‘Amor Sem Escalas’ tem ótimas interpretações, um roteiro bem amarrado, que diverte em vários momentos e emociona em outros tantos. Mas tem um problema: é fugaz. É o tipo de filme que te faz passar uma hora e meia agradável, mas do qual logo você já não se recorda grande coisa. Um tipo de cinema válido e necessário até, mas que para alguém do talento e da simpatia de Jason Reitman ainda é muito pouco.
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