quinta-feira, 10 de março de 2011

Amores (im)possíveis


Aproveitando a deixa do Dia dos Namorados, celebrado ontem por muitos casais, nada mais oportuno do que falar de romances. Afinal, de histórias de amor o cinema está repleto desde seus primórdios. Culpa da natureza humana talvez, mas poucas coisas são capazes de envolver tanto os espectadores como um bem-sucedido relacionamento entre duas pessoas que se conhecem, se apaixonam e vivem felizes para sempre. Se é exatamente isso que você procura, sinto muito, mas não é bem o caso de ‘Amantes’. Já para quem deseja menos açúcar na água e uma dose um pouco mais forte de realismo, aí estamos falando a mesma língua.
A fórmula clássica do romance hollywoodiano é imbatível porque representa o sonho de muitas pessoas, de repentinamente encontrar sua cara metade e a tão almejada felicidade a dois. Não digo que o diretor James Gray, até então conhecido por dramas policiais como ‘Caminho Sem Volta’ e ‘Os Donos da Noite’, subverta esse conceito e contrarie os românticos tradicionais. Consideremos que ele opta por um percurso mais acidentado e tortuoso para chegar ao seu destino final.
Logo de cara, vemos o jovem Leonard (Joaquin Phoenix, em seu último papel antes de surtar e mergulhar na sua controversa aventura como rapper) se atirar na água em uma evidente tentativa de suicídio. Logo mais, saberemos que seus problemas são fruto de um relacionamento terminado há algum tempo de forma traumática. Por intermédio de seus pais, ele conhece Sandra (Vinessa Shaw), uma garota simpática, comportada e bem intencionada, tida como a opção ideal para o rapaz.
Na mesma época ele descobre sua vizinha Michelle (Gwyneth Paltrow), extrovertida, bem-humorada e de espírito aventureiro. Por trás dessa aparência de bem com a vida, contudo, a garota esconde uma personalidade depressiva e um relacionamento com um homem casado (Elias Koteas). Apesar das investidas de Sandra, Leonard se vê bem mais atraído por Michelle e acaba dividido entre as duas mulheres, que representam mundos e possibilidades completamente distintos.
A bem da verdade, ‘Amantes’ é uma história de amores incompletos. Sandra é apaixonada por Leonard, que lhe trata com certa frieza em virtude da atração incontrolável por Michelle. Esta, por sua vez, o trata como amigo porque não consegue se desvencilhar das promessas do amante, que mesmo tentado, se mantém preso à esposa e os filhos. E assim segue uma roda viva de pessoas apaixonadas, atormentadas e divididas entre sentimento e racionalidade.
Apesar de toda a gama de personagens, a narrativa não tem mistérios. Não há grandes reviravoltas, protagonistas exóticos, idas e vindas no tempo ou truques estéticos. É cinema na sua forma clássica, contando a história de pessoas. O que faz diferença em ‘Amantes’ é a complexidade dos dramas particulares, que resultam em um todo marcado pela bipolaridade de sentimentos. Por mais que se torça por este ou aquele final, há sempre um ponto de interrogação: afinal, o que seria a felicidade de fato? O desfecho abre suas concessões, mas não sem antes entregar uma sequência intensa e provocativa, de emoções que só o cinema é capaz de proporcionar.

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