quinta-feira, 10 de março de 2011

Muita política, pouco cinema

Um dos efeitos do governo George W. Bush no cinema foi o de fazer com que Hollywood deixasse um pouco de seu orgulho americano de lado e passasse a investir mais no cinema politizado. Uma das estratégias nesse sentido é o de resgatar episódios da história para tecer comparativos (ainda que metafóricos) com a situação atual, casos de ‘Boa Noite, Boa Sorte’, de George Clooney, e ‘A Conquista da Honra’, de Clint Eastwood. Esse também foi o caminho enveredado pelo ator-diretor Emilio Estevez em ‘Bobby’, produção que pode até cumprir seu papel político, mas deixa um tanto a desejar em termos cinematográficos.
Estevez escolheu uma figura mítica da política norte-americana, o senador Robert Kennedy, assassinado no dia em que venceu as prévias democratas na Califórnia, surgindo como potencial candidato à presidência da República. Irmão do presidente John Kennedy (também assassinado anos antes), era visto como a grande esperança daqueles que eram contrários à Guerra do Vietnã e que sonhavam com o apaziguamento dos conflitos étnicos no País.
Para recriar o mito Bobby (como era apelidado Kennedy), o diretor reconstituiu o clima político, festivo e de apreensão que tomava conta do Ambassador Hotel, palco de comemoração da vitória e, minutos depois, do assassinato. Desfilam pela tela 22 personagens fictícios que estavam no local naquela data, em diferentes situações e por motivos diversos, mas que, de alguma forma, tiveram ligação com o episódio. Do proprietário do hotel a um cozinheiro latino, de colaboradores de campanha a um casal em repouso.
Sim, Emilio Estevez se utiliza do formato narrativo imortalizado por Robert Altman, o mosaico de vários personagens que se cruzam. E para isso se cerca de um elenco dos mais estelares, que inclui nomes como Anthony Hopkins, Sharon Stone, Demi Moore, Martin Sheen, Eijah Wood, entre outros. Acontece que Estevez não é Altman e ainda tem muito a aprender.
Os personagens de ‘Bobby’, em sua maioria, são superficiais e caem no lugar comum. Há a telefonista que tem um caso com o dono do hotel, a cantora alcoólatra decadente, o porteiro aposentado saudosista, o jovem e empenhado colaborador de campanha idealista, o gerente racista... algumas situações reproduzem clichês manjados, como as rusgas entre negros e latinos, ou o clipe com os personagens no meio do filme, já visto em ‘Magnolia’ e ‘Crash’. Um dos poucos achados são as seqüências em que dois jovens trocam as atividades de campanha por uma viagem em LSD.
Ninguém representa Bobby Kennedy, que aparece no filme por meio de imagens reais de arquivo. Seus discursos também são reproduzidos, inclusive o que fez no hotel momentos antes de sua morte. Até aí ponto para o diretor, mas que acaba sobrecarregando no tom idealista, martirizando o político de forma maniqueísta, chegando até a irritar em alguns momentos. Pode funcionar para quem conhece e admira a figura dos Kennedy, mas para quem está à procura apenas de bom cinema, não serve muito.

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