quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma partida com pouca emoção


Apesar de ser ‘o país do futebol’, o Brasil poucas vezes viu transportado para as telas de cinema o fascinante universo do esporte bretão. Uma das honrosas exceções foi ‘Boleiros – Era Uma Vez o Futebol...’, dirigido por Ugo Giorgetti em 1998. Apesar da fragilidade como obra cinematográfica, era inegavelmente um filme que divertia, e muito, os amantes da bola. Em razão disso, a expectativa era grande quanto a ‘Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos’. Lamentavelmente, a expectativa é frustrada tanto para os admiradores do cinema quanto os do esporte.
O primeiro ‘Boleiros’ tinha uma narrativa bastante simplória, pobre até. Um grupo de ex-jogadores se reunia em um bar para relembrar saudosas histórias dos tempos românticos do futebol. Os problemas de roteiro eram compensados com seqüências memoráveis, como a do juiz ladrão que faz o jogador repetir várias vezes a cobrança de um pênalti, e a reprodução de uma mesa redonda futebolística na televisão. Um filme simples, mas capaz de deliciar os apaixonados por futebol.
Para a segunda partida, ou melhor, o segundo filme, Giorgetti manteve a escalação, mas resolveu mexer no esquema tático. O ponto de partida é o mesmo: o Bar do Aurélio, remodelado, mas onde os boleiros do primeiro filme continuam a se reunir para relembrar velhas histórias. Dessa vez, no entanto, o roteiro não se sustenta apenas nos episódios isolados do passado. O cineasta desenvolve histórias paralelas no presente, até como estratégia para contrastar tempos românticos que já se foram com uma realidade bem diferente e cruel.
As velhas lembranças voltam a evocar situações pitorescas e conhecidas do universo futebolístico. Tem o falso argentino que se faz passar por filho de um craque do passado, o auxiliar frustrado que sonha em se tornar um grande técnico, o ex-jogador que reaparece misteriosamente após anos de sumiço. O contraponto aparece no futebol do século 21, povoado por empresários inescrupulosos, marias-chuteiras, a superexposição na mídia e as tentações do dinheiro fácil.
O charme do primeiro ‘Boleiros’ estava justamente em evocar o romantismo do esporte, por meio daquelas histórias transmitidas como lendas contadas pelos nossos avós. E é justamente isso que falta a ‘Boleiros 2’. Os melhores (e poucos) momentos do filme são exatamente aqueles que abordam situações divertidas, como a discussão entre o técnico Edil (Lima Duarte) e a árbitra Neidinha (Denise Fraga), ou o encontro de ex-jogadores com um já caquético ex-presidente de clube.
A verdade é que Giorgetti pisa na bola quando tenta fazer crítica social. Por exemplo, ao tomar boa parte do filme com a história pouco convincente do meio-irmão do ‘craque do penta’ Marquinhos, que está preso e chantageia o jogador. Ou então dando um tratamento raso e apelativo a personagens como Lurdinha, ex-mulher que explora o craque, e um garoto que, mesmo com grande talento para o futebol, continua optando pela marginalidade.
Comparado a uma partida de futebol, ‘Boleiros 2’ é como aquele magro empate em zero a zero: alguns momentos de emoção aqui e ali, mas no final o sentimento é de decepção, de que as equipes deixaram a desejar. Nesse caso, faltou um pouco mais de futebol arte.

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