quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma legítima obra-prima


É preciso uma boa dose de cautela antes de classificarmos alguma coisa como obra-prima. É preciso tempo para apreciá-la, sentir os efeitos do seu envelhecimento, quão fugazes ou definitivos foram seu impacto e as impressões deixadas. Passados 26 anos do lançamento de ‘Blade Runner, o Caçador de Androides’, é possível dizer com todas as letras: sim, estamos diante de uma obra-prima do cinema. O lançamento de sua terceira versão, essa sim considerada a definitiva pelo diretor Ridley Scott, é um excelente pretexto para (re)apreciar uma produção que, com o passar dos anos, só encanta e impressiona cada vez mais.
Posso dizer, sem receio, que ‘Blade Runner’ foi o primeiro filme que me impressionou para valer, isso quando tinha apenas 11 anos e uma vaga noção do que o cinema significava de verdade. As imagens de um futuro sombrio, o clima de ação desacelerada, a reflexão final sobre a vida, tudo aquilo foi um baque imenso para um moleque que até então se divertia ao acompanhar os filmes da série ‘Loucademia de Polícia’. Desde então, foram inúmeras as vezes em que revi o filme, a cada uma impactado e maravilhado como na primeira vez.
A história é conhecida por onze entre dez apreciadores de cinema. Em 2019, androides construídos à semelhança do homem (chamados replicantes) são caçados após se rebelarem contra seus criadores. Deckard (Harrison Ford) é um ‘blade runner’, policial designado especificamente para essa missão. Seus alvos são quatro replicantes em busca apenas de um pouco mais de tempo para viver.
Baseado no livro ‘O Caçador de Androides’, do escritor Philip K. Dick, ‘Blade Runner’ não foi bem recebido pelo público quando de seu lançamento. Pelo que se sabe, a plateia achou um tanto quanto monótona uma ficção científica com pouca ação e toques existencialistas. Somente com o passar dos anos a produção foi assimilada pelos críticos e ganhou seus admiradores, se transformando no primeiro filme a consagrar a aura de ‘cult movie’.
São muitas as qualidades a exaltar na obra de Ridley Scott. A primeira, que salta aos olhos logo de início, é a concepção visual. Para construir uma espécie de noir futurista, o cineasta criou um cenário impressionante, principalmente se consideramos a época em que foi realizado. A metrópole chuvosa, superpopulosa e infestada por letreiros publicitários provoca uma sensação de angústia acentuada pela magistral fotografia sombria, já usada em ‘Alien’, produção anterior de Scott. Em segundo lugar, não há como ficar indiferente ao brilhante roteiro, que de início nos apresenta uma história de polícia e bandido, mas que aos poucos vai mergulhando em uma reflexão existencial que termina com uma simples pergunta: o que é a vida, afinal?
Em tempo: antes da versão lançada agora, outras duas haviam sido divulgadas. A primeira, lançada nos cinemas, tem como principal diferença a narração em off do personagem principal. Em relação à segunda, já sem a narração, são poucas as alterações, apenas para suscitar mais algumas dúvidas no espectador. Todas estão no DVD triplo, que contém ainda um amplo making of do filme. Enfim, o melhor é assistir, pois tudo que escrever aqui não é nada perto da experiência de vivenciar ‘Blade Runner’.

Nenhum comentário:

Postar um comentário