sábado, 12 de março de 2011

Mistério e decadência

A premissa era das mais interessantes: evocar um episódio real, a morte obscura de um ator decadente da década de 50, para conduzir uma trama de mistério e intriga nos bastidores do cinema. Mas todas as possibilidades vislumbradas por um enredo como esse parecem ter confundido a cabeça do diretor estreante Allen Couter, que acabou fazendo de ‘Hollywoodland – Bastidores da Fama’ um filme bem abaixo do que era de se esperar.
O roteiro parte da morte do ator George Reeves, que após algumas participações em grandes produções, se notabilizou ao interpretar o primeiro Superman da história em um seriado televisivo. Com uma vida pessoal turbulenta, envolto em problemas financeiros e dependente de álcool, Reeves foi encontrado morto com um tiro em seu quarto. A polícia apontou suicídio como a causa da morte, mas a possibilidade de assassinato foi levantada, deixando uma sombra de dúvida sobre o episódio.
Com base nesse fato verídico, o filme cria a história do detetive particular Louis Simon (Adrien Brody), contratado pela mãe do ator para investigar a hipótese de homicídio. Também com uma vida particular problemática, o detetive mergulha fundo no caso e passa a acreditar cada vez menos na versão de suicídio. Por meio de flashbacks, o filme mostra a vida de Reeves (vivido por Ben Affleck) e formula teorias elencando como suspeitos a noiva do ator e um executivo da produtora Metro Goldwin Mayer.
O mais lamentável, a princípio, é que o diretor Allen Couter tenha desperdiçado um material humano tão atraente como a história de George Reeves. Sua ascensão e queda, os romances turbulentos, a frustração por não conseguir se desvencilhar de um único personagem, seu fim trágico, tudo é mostrado de maneira superficial e sem brilho. Ben Affleck até que se esforça, tendo sido recompensado com um prêmio no Festival de Veneza e uma indicação ao Globo de Ouro, mas está muito aquém de convencer em um papel tão complexo.
Como não investiu no drama pessoal, o diretor aposta então na trama de suspense, revivendo o cinema noir aos moldes de ‘Los Angeles Cidade Proibida’ e ‘Dália Negra’. Segundo equívoco. O filme também não decola como trama de mistério, já que lança algumas linhas de investigação, mas em todas elas acaba ficando no meio do caminho. Nem mesmo a possibilidade de abordar ‘os bastidores da fama’, como diz o subtítulo em português, é aproveitada. Também as tramoias, intrigas e jogos de interesses do meio cinematográfico passam de relance, como que apenas para justificar a menção a Hollywood no título.
De tudo isso o que sobra? Justamente o menos interessante, o drama particular e os clichês do universo detetivesco do personagem de Adrien Brody, que tomam a maior parte da produção. Convenhamos, é muito pouco de um filme que parte de um grande projeto para um resultado final pífio.

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