sexta-feira, 11 de março de 2011

Um mergulho no noir


Nos últimos anos, nenhum filme foi capaz de dividir tanto os críticos como ‘Dália Negra’, a mais recente criação de Brian de Palma. Uma parte saudava a obra como o retorno triunfal do cineasta, após um longo jejum marcado por produções no máximo razoáveis. A outra parte não hesitou em malhar a obra, lamentando a espiral de fracassos em que o diretor se meteu desde a década passada. Mas já que dizem que toda unanimidade é burra, eis um bom motivo para conferir o filme e tirar suas próprias conclusões.
Antes de tudo, é preciso respeitar De Palma, veterano diretor que faz parte do primeiro escalão do cinema contemporâneo, ao lado de Martin Scorsese, Francis Ford Copolla e Clint Eastwood. É daqueles cineastas à moda antiga, que constroem seus filmes com paixão, de maneira meticulosa, atentos a cada detalhe que possa escapar. Ainda que suas produções mais recentes estejam muito aquém de seu talento (casos de ‘Olhos de Serpente’ e ‘Femme Fatale’), têm qualidades que colocam muita gente no chinelo.
‘Dália Negra’ é baseado no romance homônimo de James Ellroy, escritor que nas primeiras décadas do século 20 retratava um sórdido mundo em que policiais e criminosos se confundiam. Foi o mote perfeito para De Palma promover uma homenagem aos filmes noir, policiais marcados pelo tom de suspense e atmosfera degradante que se notabilizaram até os anos 50.
Em uma violenta Los Angeles da década de 40, os policiais Dwight 'Bucky' Bleichert (Josh Harnett) e Leland 'Lee' Blanchard (Aaron Eckhart) investigam o bárbaro assassinato de Elizabeth Short, uma jovem que sonhava em ser atriz de cinema. À medida em que conhecem a história da garota, vão se infiltrando em um submundo que esconde corrupção, prostituição, mulheres fatais e crimes escusos. Seus sentimentos ainda se dividem entre Kay Lake (Scarlett Johansson), esposa de Blanchard, e a misteriosa Madeleine Linscott (Hilary Swank).
Infelizmente, o experiente diretor comete alguns equívocos que tiram do filme o brilho que poderia ter. O primeiro deles é a escalação do elenco principal. Josh Harnett, com sua carinha de adolescente, é totalmente inexpressivo como policial envolvido em um mar de dúvidas. Ok, Scarlett Johansson é um colírio para os olhos, mas suas caras e bocas são dignas de uma novela mexicana. Hilary Swank já provou que é excelente atriz, mas não convence ninguém como mulher fatal. Resta a Aaron Eckhart segurar as pontas, dando vida a um detetive dúbio e cada vez mais atormentado.
Também falta a ‘Dália Negra’ a atmosfera barra pesada das obras de Ellroy, povoada por policiais inescrupulosos e onde praticamente não há distinção entre bons e maus. Diferente do que ocorre, por exemplo, em ‘Los Angeles Cidade Proibida’, outra adaptação do mesmo autor. Tudo bem, é uma liberdade que o diretor tem, de enveredar pelo caminho do suspense romanceado, mas a sensação que se tem é de que os personagens pertencem a um mundo e a história se passa em outro.
Mas de Palma continua o mesmo naquilo que tem de melhor: a construção de cenas e seqüências como quem compõe uma sinfonia. São cenas que aliam plasticidade, ritmo e tensão, numa técnica dominada por poucos. Pode não ser o cineasta na boa e velha forma de ‘Os Intocáveis’ ou ‘Scarface’, mas é o suficiente para manter o respeito por quem sabe fazer cinema de verdade.

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