sábado, 12 de março de 2011

Medo do desconhecido

 
‘Esta seria uma virada digna dos seus filmes, cada vez piores’. A frase é de ninguém menos que Homer Simpson, em um episódio que cogita a possibilidade do diretor M. Night Shyamalan ser seu verdadeiro pai. Sou obrigado a concordar que o cineasta indiano radicado nos Estados Unidos entrou em decadência após um início próspero e que, até algum tempo atrás, seus filmes tinham esse irritante chavão da virada surpreendente. Ainda assim, guardo por ele uma admiração que tenho por poucos diretores contemporâneos, por ser alguém realmente autêntico e que consegue a proeza de fazer cinema autoral em plena Hollywood. Lamentavelmente, ‘Fim dos Tempos’ ainda não é sua redenção, mas é um passo no sentido de retomar o caminho brilhante em que sempre acreditei.
Curiosamente, a marca registrada dos filmes de Shyamalan acabou por se transformar em uma estratégia de marketing. A cada anúncio de um novo filme seu, cria-se um clima de expectativa sobre o que virá dessa vez, parecido com o que se instala sobre o espectador ao acompanhar suas histórias. Essa expectativa se acentuou após a infelicidade sem tamanho que foi ‘A Dama na Água’. Pensou-se: ou ele se recupera ou se enterra de vez.
Mais do que suas produções anteriores, ‘Fim dos Tempos’ teve um lançamento cercado de mistérios. Pouquíssimo se divulgou sobre a história, os trailers pouco revelavam e as pré-estreias para a imprensa aconteceram às vésperas do lançamento oficial. Tudo para preservar o clima aterrador vivido pelo professor Elliot Moore (Mark Wahlberg), sua esposa Alma (Zooey Deschannel) e a pequena Jess, que se vêem envolvidos em uma experiência apavorante.
De repente, uma estranha epidemia começa a tomar conta dos Estados Unidos: pessoas simplesmente começam a se matar em massa, sem qualquer motivo aparente. Inúmeras suspeitas são levantadas, desde algum vírus desconhecido, um fenômeno natural inesperado até algum tipo de ataque terrorista. Com o relacionamento em crise, o casal Elliot e Alma se vê obrigado a fugir, não se sabe para onde nem de quê, mas para algum refúgio a salvo da ameaça invisível.
As primeiras seqüências são realmente impressionantes e assustadoras. A cena em que pessoas se jogam em massa do alto de um prédio, como uma chuva de corpos humanos, é de um impacto assombroso. Fã assumido do mestre Alfred Hitchcock, Shyamalan se espelha em ‘Os Pássaros’, em que do nada uma população inteira se vê ameaçada por uma força sobrenatural desconhecida. Mas se na obra hitchcockiana os bichos ainda eram um inimigo palpável, aqui o terror é dobrado, já que não há de quê ou quem se esconder.
Entramos então naquele que continua sendo o calcanhar de Aquiles de Shyamalan: a condução da história rumo a seu desfecho. À medida que se supera o impacto inicial, quando o espectador começa a exigir mais, o diretor não consegue ideias suficientes para satisfazê-lo. Isso não significa bolar algum tipo de explicação didática ou um final feliz, mas elaborar um roteiro que mantenha o interesse e não deixe o espectador à deriva. Mas, goste-se ou não de seus filmes, ainda é um cineasta único, cujo talento é diretamente proporcional à sua personalidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário