quinta-feira, 10 de março de 2011

Um novo modo de fazer rir


Um velho ditado do meio artístico diz que é muito mais difícil fazer uma plateia rir do que chorar. Talvez por isso, o cinema de humor se veja obrigado a se reinventar de tempos em tempos, afinal, uma mesma piada repetida demasiadamente acaba por perder a graça. Por muitas vezes essa árdua tarefa recai sobre uma única pessoa, já que a comédia, como gênero mais egoísta do cinema, quase sempre é dependente da figura solitária do humorista. Desde o final do ano passado, o novo salvador do riso da humanidade atende pelo nome Sacha Baron Cohen, tornado mundialmente conhecido como ‘Borat’.
Com o subtítulo ‘o segundo melhor repórter do glorioso país do Cazaquistão viaja à América’, ‘Borat’ chegou aos cinemas com impacto revolucionário. Lançando mão de um modelo humorístico pouco explorado nas telas grandes, o filme se tornou a grande sensação não apenas entre plateias de variadas idades, mas também entre críticos, que o saudaram como um novo expoente na história das comédias. Tanto que, logo de cara, garantiu a Baron Cohen o Globo de Ouro de melhor ator em comédia e rendeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado.
Borat é o personagem criado pelo comediante como um repórter do Cazaquistão, país do leste europeu que muita gente não sabe nem onde fica. Na pele do jornalista, ele parte para os Estados Unidos com o pretexto de conhecer de perto o modo de vida norte-americano. A partir daí, o personagem se envereda em uma série de situações reais, naquilo que Baron Cohen (ator, diretor, roteirista e produtor) chama de ‘documentário fictício’.
Para nós brasileiros, o humor de ‘Borat’ pode ser comparado ao feito pelo programa ‘Pânico na TV’, no qual os humoristas arrancam risos do constrangimento público e explorando o desconforto alheio. A diferença está no trato da coisa. Enquanto o pessoal do ‘Pânico’ quer apenas colocar uma saia justa nas celebridades, Baron Cohen usa desse artifício para trazer à tona os preconceitos, a ignorância e os estereótipos da sociedade norte-americana. E, para isso, abusa do politicamente incorreto.
Praticamente ninguém escapa da metralhadora do humorista: judeus, negros, sulistas, feministas, universitários. Todos são alvos de piadas ou colocados em situações nas quais, voluntária ou involuntariamente, revelam atitudes ou pensamentos grotescos. Durante um rodeio, Borat inflama uma platéia a expressar toda sua repulsa pelos muçulmanos e a simpatia à ‘guerra contra o terror’. Em um jantar requintado, se coloca como uma espécie de atração circense testando a paciência dos anfitriões. E assim o filme segue numa sucessão de situações que arrancam risos, chegam a ser incômodas, mas no fundo têm um certo quê sociológico.
É verdade que em algumas cenas o comediante se entrega ao humor escatológico, com piadas rasteiras e, de certa maneira, desnecessárias. De todo modo, Sacha Baron Cohen conseguiu cravar seu nome na história da comédia, produzindo um filme que, além de arrancar boas risadas, também questiona o riso e o próprio fazer rir. E sem nenhum tipo de pudor.

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