sexta-feira, 11 de março de 2011

Cores, sons e movimentos


Por algum motivo que não sei explicar, não sou um espectador muito assíduo de animações. Sei que algumas são geniais (como a série ‘Shrek’ e ‘Wall-E’), mas geralmente é preciso um argumento a mais para me mobilizar a assistir a um desenho animado. Quando li a sinopse de ‘Coraline e o Mundo Secreto’, por exemplo, a vontade de ir ao cinema foi imediata. Nada de bichinhos fofinhos e engraçadinhos, mas uma história com tons sombrios e um pouco complexa. A empreitada não foi em vão. ‘Coraline’ é um espetáculo envolvente e encantador, tanto para os olhos quanto para a mente.
O filme apresenta uma série de diferenciais em relação à produção regular de animação, comandada por Pixar e Disney. Primeiramente na técnica. Quem roteiriza e dirige é Henry Selick, o mesmo de ‘O Estranho Mundo de Jack’, que apresentava a chamada ‘stop motion’. Trata-se de uma técnica através da qual se fotografa cada movimento dos bonecos utilizados como protagonistas, ao invés de desenhá-los ou criá-los no computador. O que pode parecer rudimentar tem um efeito impressionante. ‘Coraline’ usa dessa mesma técnica, que, encorpada com efeitos de computação gráfica, torna-se ainda mais bela.
Outro diferencial está na história, adaptada de uma obra de Neil Gaiman, famoso escritor e autor de histórias em quadrinhos (‘Sandman’ é sua obra mais popular). Seus trabalhos têm um tom fantasioso, mas não necessariamente infantil. No caso de ‘Coraline’, há uma estrutura de fábula, com direito a humor e moral da história, mas mantendo uma linha mais soturna. A narrativa não é tão didática como das animações comuns, mas também nada que seja tão complexo.
A personagem-título é uma pequena garota que se muda com os pais para uma antiga casa no interior. Entediada, é praticamente ignorada pelo pai e pela mãe, envolvidos com seus afazeres. Certo dia, Coraline descobre uma porta misteriosa na casa, que dá acesso a um outro mundo. Na verdade, é como se fosse o seu mesmo mundo melhorado, onde seus pais são atenciosos, há amigos, diversão e tudo mais que ela deseja. O detalhe é que todos os habitantes possuem botões no lugar dos olhos. Quando surge o convite para que ela passe a viver naquele universo, há uma única condição que lhe é colocada: que também deixe seus olhos serem substituídos por botões.
A partir desse momento, o que era um animado conto de fadas ganha tons mais sombrios e aspectos mais assustadores. É possível encontrar influências das mais diversas, do surrealismo de ‘Alice no País das Maravilhas’, de Lewis Carroll, ao fantástico mundo de Tim Burton, passando até pelas estranhezas de David Lynch. Como alerta aos pais, é possível que algumas sequências impressionem crianças mais novas e mais sensíveis.
O que não quer dizer que ‘Coraline’ seja uma animação para adultos. É um filme que pode ser tranquilamente apreciado em família, capaz de entreter tanto moleques como marmanjos com suas imagens deslumbrantes e sua narrativa intrigante. Um festival de cores, sons e movimentos raramente visto nas telas.

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