quarta-feira, 9 de março de 2011

Suspense no melhor estilo

Martin Scorsese é daqueles cineastas que já não precisam provar mais nada para ninguém. Principalmente depois de conquistar, com ‘Os Infiltrados’, o tão cobiçado Oscar, que coroou uma carreira digna de um dos gênios do cinema ainda vivos. Ainda assim, o diretor segue explorando territórios pelos quais ainda não andou, ou pelo menos, não transitou com muita frequência. O gênero do suspense, por exemplo. ‘Ilha do Medo’ é sua segunda experiência no estilo consagrado por Alfred Hitchcock. Se não está no nível de suas obras primas, mostra que o cineasta mantém a boa forma e que talento não se perde com o passar dos anos.
‘Ilha do medo’ é inspirado no livro ‘Paciente 67’, escrito pro Dennis Lehane, autor de ‘Sobre Meninos e Lobos’, que ganhou célebre versão cinematográfica nas mãos de outro veterano, Clint Eastwood. Uso o termo ‘inspirado’ porque o ponto de partida é o mesmo, mas Scorsese e o roteirista Laeta Kalogridis tomaram algumas liberdades para deixar a história mais cinematográfica, digamos assim. O resultado é um filme com direito a todos os componentes básicos do suspense e alguns toques sobrenaturais.
Ambientada nos anos 1950, a história tem como protagonista o agente do FBI Teddy Daniels (Leonardo Di Caprio, novo colaborador de Scorsese e protagonista de todas suas últimas produções), que desembarca na ilha Shutter, onde funciona um presídio de segurança máxima reservado a criminosos perigosos e com problemas mentais. Sua tarefa, ao lado do colega Chuck Aule (Mark Ruffallo), é investigar o misterioso sumiço de uma interna. Rachel Solando (Emily Mortimer) escapou descalça de uma cela, sem que ninguém percebesse e sem deixar nenhuma pista. A mulher estava presa por assassinar os três filhos.
A investigação esbarra em restrições e obstáculos impostos pelos dois psiquiatras do manicômio, Dr. Cawley (Ben Kingsley) e Dr. Nehring (Max Von Sydow). Ao mesmo tempo, Teddy começa a sofrer estranhos pesadelos, que envolvem seu passado na guerra e a morte da esposa (Michelle Willians) em um incêndio doméstico. Suas perturbações aumentam cada vez mais, confundindo alucinação com realidade. Contar mais estragaria o suspense do filme, que mergulha o espectador em uma espiral de dúvidas que só aumentam à medida que a história avança.
Com a experiência de quem conduziu narrativas históricas como as de ‘Os Bons Companheiros’ e ‘Cassino’, Scorsese leva a trama com todo fôlego até seu desfecho. A exemplo da obra de Hitchcock, o grande truque está em iludir o espectador, fazer com que ele acredite estar próximo da verdade para no momento seguinte surpreendê-lo. A conclusão vai ainda mais além, fazendo com que após o filme você e seus amigos discutam suas versões para os acontecimentos.
Além da narrativa bem engendrada, ‘Ilha do Medo’ conta com um suporte técnico de primeira linha: a montagem sempre contundente de Thelma Schoomaker (outra velha colaboradora de Scorsese), a fotografia de Robert Richardson (contrastando o colorido intenso dos pesadelos com o aspecto sombrio da ilha) e a trilha sonora fundindo trabalhos de vários compositores (a sequência da chegada à ilha é de arrepiar). Em resumo: um grande Scorsese menor.

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