quinta-feira, 10 de março de 2011

Risos no embalo do rock


De dois anos para cá, uma nova assinatura se notabilizou na comédia norte-americana. O nome Judd Apatow, seja nos créditos de produção, roteiro ou direção, virou sinônimo de boas risadas. O humor debochado e desbocado, porém sensível e recheado de referências pop, tornaram-se marca associada a seu nome. Filmes como ‘O Virgem de 40 Anos’, ‘Ligeiramente Grávidos’ e ‘Superbad – É Hoje’ conseguiram a façanha de conciliar bom público e críticas favoráveis. Lamentavelmente, não foi o caso de ‘A Vida é Dura – A História de Dewey Cox’, outro produto da grife, mas que passou ao largo das bilheterias.
No Brasil o filme sequer chegou a passar pelos cinemas, desembarcando diretamente nas videolocadoras. Culpa da fraca receptividade nos Estados Unidos, onde nem mesmo as duas indicações ao Globo de Ouro (ator de musical/comédia para John C. Reilly e canção) atraíram a atenção do grande público. A assinatura de Apatow dessa vez aparece na produção e no roteiro, escrito em parceria com o diretor Jake Kasdan, cujo produto mais conhecido no currículo é a comédia ‘Efeito Zero’.
Em ‘A Vida é Dura’, John C. Reilly interpreta um ídolo da música chamado Dewey Cox. Após o trauma de ter matado o irmão de maneira bizarra, ele inicia uma carreira precoce como músico e cantor, tornando-se rapidamente um astro do rock. Sua carreira, porém, será marcada negativamente pelos problemas conjugais e pelo envolvimento com drogas. Essa história lhe pareceu familiar? Sim, Kasdan e Apatow fazem uma grande paródia de filmes como ‘Ray’ e ‘Johnny e June’, que retratam as trajetórias de Ray Charles e Johnny Cash, respectivamente.
A fria recepção de ‘A Vida é Dura’ talvez se deva ao fato de ser um filme direcionado a quem aprecia e conhece um pouco da história do rock. Além de Charles e Cash, estão presentes no filme referências explícitas a Jim Morrison, Bob Dylan, David Bowie e Brian Wilson. O diretor faz uma colagem de elementos relacionados a músicas, discos, episódios e personagens do universo roqueiro, tornando algumas piadas compreensíveis somente a quem está inteirado desse meio.
Se você ainda não viu ‘Ray’ e ‘Johnny e June’, é interessante que veja antes de ‘A Vida é Dura’, uma vez que a maior parte do roteiro satiriza essas duas produções. Quando se fala em sátira, porém, não espere algo escrachado e grosseiro na linha de ‘Todo Mundo em Pânico’ e bobagens afins, mas uma paródia respeitável, que subverte principalmente os clichês de cinebiografias musicais. Algo bem ao estilo Judd Apatow, divertido, sem pudor, mas com sensibilidade.
Mais do que ninguém, ‘A Vida é Dura’ pertence a esse brilhante ator que é John C. Reilly. Representando Dewey Cox desde sua infância, ele não apenas interpreta as várias fases do artista, como solta o gogó e canta (muito bem, por sinal) suas composições. Destaque ainda para algumas participações especiais e hilárias, como Jack White interpretando Elvis Presley, Jason Schwartzman de Ringo Starr e Jack Black como Paul Mcartney. Para quem procura apenas uma boa comédia, um belo divertimento. Mas para quem é fã de rock, uma experiência deliciosa.

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