sábado, 12 de março de 2011

Por dentro dos bastidores


O cinema pode ser muito divertido quando fala de si mesmo. Basta lembrarmos, por exemplo, de ‘O Jogador’, em que Robert Altman expunha sem pudor as intrigas da indústria cinematográfica, ou do clássico ‘8 ½’, de Fellini, que mergulhava na crise criativa de um cineasta. É um território vasto, fácil de ser explorado por quem está disposto a revelar ao público um pouco do que se passa nesse universo tão fascinante quanto desafiador. Barry Levinson bem que tentou entrar nesse time com ‘Fora de Controle’, mas infelizmente não conseguiu ir muito além do trivial.
É estranho porque Levinson é um diretor competente, que já fez comédias inteligentes e bem amarradas como ‘Mera Coincidência’ e ‘Vida Bandida’. Além disso, conseguiu reunir um elenco de fazer inveja a qualquer colega: Robert De Niro, Bruce Willis, Sean Penn, Robin Wright Penn, Catherine Keneer, John Turturro e Stanley Tucci. Está certo que a história do produtor de cinema que tem de lidar com a fauna e os entraves da indústria não é das mais originais, mas poderia render bons frutos.
Ben, o produtor, é vivido por De Niro, ator magistral que de uns anos para cá parece estar fazendo questão de rasgar seu currículo em produções de gosto duvidoso. Sempre com o telefone celular em atividade, ele vive dois desafios profissionais. O primeiro é convencer um diretor a mudar o final autoral de seu filme para evitar um fracasso nas bilheterias. O segundo é lidar com um astro de Hollywood (Bruce Willis, interpretando a si mesmo), pouco disposto a abrir mão de suas convicções pessoais para satisfazer o gosto do público.
Em ambos os casos, Levinson aborda uma questão que atormenta produtores, artistas e o próprio público: até onde vão os limites entre manter suas ideias como artista e se entregar aos interesses comerciais? Nessa toada, ‘Fora de Controle’ até consegue produzir momentos interessantes, especialmente aqueles protagonizados por Bruce Willis, que se recusa a cortar uma barba enorme para ficar com uma imagem familiar ao público. No entanto, é pouco diante da magnitude do assunto.
Entre seguir um caminho mais contundente, destilando ironia e batendo de frente com a indústria hollywoodiana, e outro mais palatável ao público, usando de um humor mais popular, Levinson fica no meio do caminho. Sua opção parece ter sido a de dar um tapa de luva na indústria cinematográfica, alfinetando apenas o suficiente para não causar grande controvérsia. Já a gama de personagens criada para dar sustância à trama, que inclui um agente, um roteirista e uma produtora executiva, apenas desfila sem marcar presença como deveria. 
Para desandar ainda mais o caldo, o roteiro inclui como trama paralela os dilemas familiares de Ben, enrolado com as filhas e as ex-mulheres. Ao invés de incrementar a narrativa, esses plots só embolam e tornam-na mais entediante ao espectador. Ao final, o que poderia ser uma interessante crítica à indústria cinematográfica se torna apenas mais um filme, entre tantos que olham para Hollywood com aquele misto de sinceridade e deslumbramento.

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