quarta-feira, 2 de março de 2011

Popular, mas sem conteúdo


2009 tem sido um ano diferente para o cinema nacional. Após estabelecer um ritmo produtivo satisfatório e garantir o respeito da crítica, chegou a hora de conquistar o público. Não aquela plateia seleta de costume, mas as massas, que vão ao cinema para comer pipoca e digerir um pouco de diversão sem compromisso. Depois do período áureo das pornochanchadas, talvez esse seja o ano em que as pessoas estiveram mais próximas dos filmes brasileiros. Os números de ‘Se Eu Fosse Você 2’ (recorde histórico), ‘Divã’, ‘Os Normais 2’ e ‘A Mulher Invisível’ comprovam que o Brasil parece ter reaprendido a fazer cinema popular. O que é positivo, mas também tem seus fatores de risco.
Analisemos o caso de ‘A Mulher Invisível’, que reúne chamarizes tanto para o grande público quanto para os apreciadores mais fiéis da nova cinematografia tupiniquim. No primeiro aspecto, o fato (ou a tentativa) de ser uma comédia rasgada, de riso fácil, calcada em gags que mais lembram um sitcom. Do outro lado da balança, a direção de Cláudio Torres, que fez o ótimo ‘Redentor’, e a presença de Selton Mello, o novo queridinho do nosso cinema. Resultado final: um filme irregular ao extremo, que não se define entre o que almeja ser e o que de fato representa.
Na história, Pedro Albuquerque (Selton Mello) é um controlador de tráfego que acabou de levar um pé na bunda da namorada. Após um período de aventuras sexuais, ele se isola até que bate em sua porta Amanda (Luana Piovani), uma mulher estonteante, que gosta de futebol e não se incomoda com suas saídas noturnas. Seria a mulher perfeita, caso ela não fosse fruto de sua imaginação.
O argumento até seria criativo e interessante se não fosse uma montanha russa. Quando acompanhamos a paixão de Pedro, já sabendo que ela é imaginária, há um sentimento de melancolia, um riso ressentido pela pena que guardamos do personagem. Assim que ele se dá conta do fato, essa expectativa se converte em escracho, apelando para o humor físico de trejeitos e exageros. O que poderia salvar o filme seria a trama paralela com Vitória (Maria Manoella), a vizinha solitária de Pedro. Porém, o que também começa bem desenvolvido logo descamba para o clichê.
Se em ‘Redentor’ Cláudio Torres soube trabalhar com destreza a confusão entre realidade e fantasia, em ‘A Mulher Perfeita’ tudo se encaminha para o previsível. O que era humor ácido e apuro visual se transforma em apelo novelesco. As interpretações de Selton Mello e Luana Piovani chegam a ser irritantes de tão exageradas e caricatas. A personagem e a atuação mais interessante acabam sendo mesmo de Maria Manoella, porém, deslocada como se tivesse saído diretamente de outro filme.
Apesar de todos esses defeitos, o público parece ter gostado. Foram mais de dois milhões de espectadores, uma marca respeitável em se tratando de cinema brasileiro. Ótimo, afinal filmes são feitos para serem vistos, o que movimenta e estimula a produção. Só é preciso pensar no modelo de cinema popular a ser perpetuado. Diversão com qualidade é possível e todo mundo gosta, ainda que alguns cineastas pensem o contrário.

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