quarta-feira, 9 de março de 2011

Polêmico e manipulador


Existem motivos de sobra para amar ou odiar Michael Moore. O gorducho com cara de caminhoneiro norte-americano foi um dos responsáveis por popularizar o gênero documentário, moldando-lhe uma nova linguagem. Narrativa irônica, colagens e intervenção direta na história foram alguns dos elementos acrescentados pelo cineasta para fugir do óbvio. Ao mesmo tempo, ele não escondia a verve manipuladora e sensacionalista, que empurrava seus pontos de vista goela abaixo do espectador. Para seus detratores, sinto dizer que não há nada de novo em ‘Capitalismo – Uma História de Amor’, seu mais recente filme. O que, consequentemente, dá motivo para seus fãs continuarem adorando-o.
Apesar de ter concorrido ao Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2009 e do tema oportuno (haja visto que quando de seu lançamento o mundo ainda sentia os efeitos da crise econômica mundial), ‘Capitalismo’ não foi bem recebido pelos espectadores mundo afora. Nos Estados Unidos, teve a menor bilheteria dentre suas produções mais famosas. No Brasil, sequer foi lançado no circuito comercial, tendo sua exibição nos cinemas restrita ao limitador círculo dos festivais.
Conhecendo o histórico de Moore, pode-se ter uma noção do que se trata seu mais novo filme. Crítico contumaz do sistema político norte-americano, o cineasta faz uma análise do regime econômico predominante nos Estados Unidos e nas maiores potências mundiais. A viagem começa sob o viés de várias pessoas que perderam suas casas por conta de dívidas com instituições financeiras. A partir daí, são destacados baixos salários de algumas categorias, em contraponto à ganância e a voracidade de grandes corporações. Tudo ao estilo Michael Moore, ou seja, sem nenhuma preocupação com a imparcialidade.
‘Capitalismo’ tem as qualidades que fazem de Moore um documentarista diferenciado, extremamente hábil e talentoso. Sua técnica narrativa, alternando depoimentos, relatos em primeira pessoa, imagens de arquivo e música, faz com que o filme fuja do formato documental quadrado. Algumas das informações coletadas pelo cineasta em sua jornada também são impactantes, como a de que pilotos de aviões chegam a ganhar menos que trabalhadores do McDonald’s. Ou então que grandes empresas fazem seguros de vida para seus funcionários colocando a si mesmas como beneficiárias.
O que continua a incomodar (a mim, pelo menos) é a forma com que o diretor impõe seu ponto de vista aos espectadores. Sua preocupação maior é colocar-nos a seu lado, não nos municiar com informações para que possamos formar nossa própria opinião. E na técnica de manipulação Moore também é imbatível, cooptando facilmente quem tem uma personalidade, digamos, mais maleável.
Como não poderia deixar de ser, há espaço para seu showzinho particular, que tanto pode ser divertido como constrangedor (e que, para o bem e para o mal, inspirou no Brasil programas como o ‘CQC’). Aqui, o ‘happening’ acontece em frente a instituições bancárias, onde o diretor exige que sejam devolvidos os valores subtraídos dos cidadãos. Em comparação a seus filmes anteriores, ‘Capitalismo’ é menos contundente e mais entediante. Mas é Michael Moore, goste-se ou não.

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