terça-feira, 1 de março de 2011

O amor em tempos surreais


Vamos ser francos: quem nunca se rendeu a um bom (ou mau) romance água com açúcar? Sim, daqueles em que há uma história de amor quase impossível, pontuada por velhos, mas envolventes clichês, e um final previsível que arranca lágrimas dos (e principalmente das) mais sensíveis. Desde que o cinema é cinema, histórias de amor representam um filão mais que obrigatório para as grandes plateias. ‘A Casa do Lago’ se enquadra nesse segmento e, considerando todos os poréns relacionados a tais produções, acaba se saindo um filme acima da média.
Como vem se tornando cada vez mais freqüente em Hollywood, onde pouco se cria e muito se recicla, trata-se de mais uma refilmagem de um filme oriental. A obra que ganhou nova roupagem foi o sul-coreano ‘Il Mare’, de 2000, do qual não se tem notícia sobre o lançamento no Brasil. Quem assumiu a empreitada foi o argentino Alejandro Agresti, que faz seu debut no cinema norte-americano e dá um certo toque portenho que acaba por diferenciar a obra.
‘A Casa do Lago’ traz ao espectador uma história de amor no mínimo surreal. Ao deixar a casa em que viveu à beira de um lago, a médica Kate Forster (Sandra Bullock) deixa na caixa de correio uma carta destinada ao próximo inquilino do imóvel. Quem lê a correspondência é o arquiteto Alex Wyler (Keanu Reeves), filho do responsável por projetar a residência. Os dois passam a se corresponder através das cartas e começa a surgir um envolvimento. No entanto, existe um obstáculo inesperado entre o casal: Alex está no ano de 2004, enquanto Kate vive em 2006.
A impossibilidade de encontro físico-temporal entre amantes já rendeu títulos famosos e que deliciam os fãs do gênero, como ‘O Morro dos Ventos Uivantes’ e ‘Em Algum Lugar do Passado’. Em ‘A Casa do Lago’, diretor e roteirista exploram com eficiência a angústia imposta ao casal pelo tempo, algo sobre o qual não temos domínio e, portanto, nada podemos fazer para alterá-lo. A notável seqüência em que Alex e Kate marcam um encontro em um restaurante, com dois anos de diferença, resume todo esse sentimento de impotência. Da mesma maneira, o filme brinca com a relação causa-efeito entre passado e presente, como o clássico ‘De Volta para o Futuro’.
Do cinema argentino Agresti traz para o filme duas características principais. A primeira é a destreza em explorar os sentimentos e a introspecção de personagens afetados pela angústia e pela solidão. Surpreende positivamente o desempenho de Reeves e Bullock, dois atores canastrões, mas que conseguem transmitir a emoção necessária aos papéis. A segunda é o surrealismo, que se não é tão marcante e incisivo quanto nas obras de nossos vizinhos, não se deixa cair no ridículo, como acontece em muitas produções hollywoodianas.
É fundamental citar ainda o papel que a arquitetura tem na história. Presente nas discussões entre os personagens, em imagens de Chicago e, principalmente, na casa que dá nome ao filme, ela se torna o seu terceiro principal personagem. O final é previsível, os diálogos melosos estão presentes, assim como uma série de clichês. Mas quem se importa? Afinal, histórias de amor são feitas disso. Quem quiser, pode preparar os lenços.

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