quinta-feira, 10 de março de 2011

O triste retrato de uma geração


Diariamente, o noticiário pelo mundo nos coloca diante de alguns questionamentos e interrogações sobre a juventude dos dias de hoje. Adolescentes promovem chacinas sem nenhum sentido, assassinam pais e avós a sangue-frio, queimam mendigos e agridem trabalhadoras. E fica sempre a grande pergunta: por quê? Indo mais além: onde essa geração perdeu o rumo? Algumas dessas questões parecem ter martelado na mente do diretor Nick Cassavetes ao adaptar para as telas a história do mais jovem criminoso a entrar para a lista dos mais procurados do FBI. Tais dúvidas são compartilhadas com o espectador em ‘Alpha Dog’, um mergulho no mundo cruel de uma juventude que parece ter perdido a noção dos próprios limites.
A história que inspirou Cassavetes é real, de Jesse James Hollywood, traficante que com apenas 20 anos de idade era caçado pela polícia norte-americana. Em ‘Alpha Dog’, ele ganha a alcunha de Johnny Truelove (Emile Hirsch) e a sucessão de fatos que o levaram a se tornar perseguido é mostrada em flashbacks entremeados por entrevistas com alguns dos personagens envolvidos. Em síntese: por conta de uma dívida com drogas, Johnny e mais alguns colegas raptam o irmão de um cliente. A princípio eles não sabem direito o que fazer com a vítima, mas à medida que o tempo passa as coisas vão saindo do controle e caminham para um desfecho trágico.
Nick Cassavetes é filho de um dos maiores ícones do cinema independente norte-americano, John Cassavetes. Do pai, demonstra ter herdado a habilidade para abordar dramas humanos de forma realista, quase sempre em tom pessimista e de amargura. Os personagens de ‘Alpha Dog’ habitam um mundo de desolação. São jovens, alguns recém-saídos da infância, que gastam seu tempo se drogando, bebendo, brigando e fazendo sexo. Seus pais não podem fazer muita coisa, já que quando estão junto dos filhos, também estão chapados, deprimidos ou buscando diversão.
Para retratar esse cenário, o diretor cerca-se de um elenco jovem, pouco conhecido, mas competente o bastante para imprimir o tom realista exigido pelo roteiro. Entre eles está o cantor pop Justin Timberlake, que surpreende com uma ótima atuação, na pele de um dos comparsas de Truelove. Os únicos astros presentes são Bruce Willis e Sharon Stone, que fazem pontas como os pais de alguns dos jovens, mas com humildade suficiente para não ofuscar os demais atores.
Com uma narrativa eficiente, que aos poucos vai acentuando a tensão, ‘Alpha Dog’ coloca o espectador em uma jornada de desconcerto e desesperança. Em alguns momentos lembra o cinema polêmico de Larry Clark e sua juventude fútil de ‘Kids’ e ‘Ken Park’. Mesmo apelando a certos clichês, é um filme que incomoda e questiona a plateia. E por mais situações inverossímeis que apresente, fala de uma geração real, que cresce aos nossos olhos alimentada por drogas e sangue. Lamentavelmente, não apenas nas telas do cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário