sábado, 12 de março de 2011

Nostalgia pura


Bem antes de a crise financeira quebrar investidores e causar pânico nas bolsas ao redor do mundo, o cinema norte-americano já vinha enfrentando outro tipo de crise, de ordem criativa. Nunca na história de Hollywood se viu quantidade tão grande de remakes e continuações, um sintoma de que novas ideias estão se escasseando por aqueles lados. A aridez é tamanha que franquias que já se julgavam extintas estão sendo ressuscitadas, numa tentativa de arrancar alguns trocados às custas dos mais nostálgicos. Nessa onda, valeu até trazer às telas novamente o velho Indiana Jones, ícone do cinema de aventura dos anos 80 que neste ano deixou o imaginário dos cinéfilos para se reatualizar.
Com a assinatura de seus criadores, ‘Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal’ desembarcou nos cinemas coberto de expectativas, afinal 17 anos o separavam do último episódio da série, ‘Indiana Jones e a Última Cruzada’. Para não deixar dúvidas quanto à legitimidade da empreitada, foram reunidos seus mentores, o produtor George Lucas, o diretor Steven Spielberg e, claro, o inconfundível Harrison Ford.
Para quem não tinha idade para acompanhar à época, Indiana Jones era um arqueólogo que se metia nas mais inusitadas aventuras sempre em busca de algum tipo de tesouro histórico. Cheio de charme e bom humor, era uma espécie de McGiver (xi, outra referência oitentista...) de tempos mais antigos, escapando de perigosos vilões e armadilhas mortais com truques tirados do chapéu. Verossimilhança era o que menos importava nesse caso, o que valia era sentir um pouco de adrenalina e se divertir por algumas preciosas horas.
A nova aventura de Indiana Jones segue exatamente a mesma fórmula de seus episódios anteriores. De início temos o herói metido em alguma confusão, de onde escapa e não quer mais saber de problemas. Porém, não tarda até que seja convencido a voltar ao front. Ao invés da Segunda Guerra, como nos outros filmes, agora estamos no período da Guerra Fria e os inimigos da vez são os soviéticos. A peça em disputa é uma misteriosa relíquia escondida na Amazônia peruana, onde mocinhos e bandidos se confrontarão até colocar as mãos no objeto de desejo.
O tempo passou, mas tudo está no lugar como nos velhos tempos. Apesar dos cabelos brancos, Harrison Ford mantém o pique e o bom humor de seu personagem, fazendo parecer que envelheceu bem menos do que todos nós. Há uma vilã ardilosa (vivida com categoria pela ótima Cate Blanchett), um par romântico (Karen Allen, que também retoma seu antigo personagem) e até um filho perdido (Shia LaBeouf). O ritmo frenético, as piadas aqui e ali, até a velha música de John Williams estão presentes para ninguém sentir falta de nada.
Então por que o novo ‘Indiana Jones’ não empolga como antes? A resposta é simples: o tempo passou, os heróis mudaram, nosso imaginário não é mais o mesmo. Não que não haja mais lugar para personagens como o velho Indiana, mas cada um tem seu tempo. Sylvester Stallone com suas fracassadas tentativas de reeditar Rocky e Rambo que o diga. Até valem os momentos de diversão, mas seria mais justo deixar apenas que a memória e a nostalgia se encarregassem de reavivá-los.

Nenhum comentário:

Postar um comentário