quarta-feira, 2 de março de 2011

Nos bastidores da monarquia


Os ingleses têm uma fascinação pela família real que é algo incomparável para nós brasileiros. Qualquer coisa que envolva um dos integrantes da monarquia britânica é motivo de estardalhaço e falatório na mídia, em especial nos famosos tabloides sensacionalistas. Talvez isso explique o fato de um filme como ‘A Rainha’ ganhar tanta notoriedade mundo afora, ao mesmo tempo em que parece tão sem graça para nós que estamos longe da Grã-Bretanha.
Não é por falta de chamarizes que ‘A Rainha’ soe desinteressante para espectadores não-britânicos. O primeiro deles é o diretor Stephen Frears, que se em termos de público tem uma carreira irregular, demonstra uma qualificada versatilidade, alternando obras alternativas como ‘Sammy e Rosie’ a produções requintadas do naipe de ‘Ligações Perigosas’ e ‘Herói por Acidente’. O segundo é a veterana atriz inglesa Helen Mirren, não tão famosa entre nós, mas que abocanhou o último Oscar e várias outras premiações sob unanimidade da crítica.
Mirren interpreta ninguém menos que Elizabeth II, a rainha da Inglaterra. O filme acompanha os momentos vividos por ela logo após a morte da princesa Diana, em um trágico acidente automobilístico ocorrido em 1997. Enquanto a população não apenas da Inglaterra, mas de todo o mundo, desaba numa comoção generalizada, a rainha acompanha tudo de longe, relutante em se envolver mais a fundo com o episódio. Enquanto a mídia e seus aliados políticos (capitaneados pelo primeiro ministro recém-eleito Tony Blair) pressionam para que tenha um posicionamento mais firme, ela tenta entender o porquê de tamanho arrebate popular.
Sendo bem simples e direto, até porque não consigo encontrar maiores eufemismos: tudo é muito chato. Vemos os pormenores cerimoniais da realeza britânica, conhecemos a força simbólica que tem a figura da rainha da Inglaterra, os bastidores da política britânica e até mesmo a intimidade real, por vezes ironizada. Mas tudo parece muito distante do universo em que vivemos. Com todo o respeito, para um país que todos os dias assiste a congressistas e governantes destrinchando operações semimafiosas, ver um líder máximo e seus assessores elucubrando sobre ir a um velório ou estender uma bandeira no palácio é de dar sono.
O mérito de ‘A Rainha’ é captar com precisão os detalhes e o clima que envolveu uma tragédia histórica. Frears foi bastante feliz ao recuperar imagens reais e mesclá-las com suas filmagens, imprimindo um certo tom documental à produção. Porém, o que se vê além disso são diálogos e mais diálogos enfadonhos, que se estendem por quase intermináveis duas horas para chegar a lugar nenhum.
Não se pode ignorar o trabalho de Helen Mirren, que tem uma interpretação magnífica e faz jus aos prêmios e críticas colecionadas mundo afora. Mesmo quem jamais ouviu falar na rainha Elizabeth se impressiona com sua figura ao mesmo tempo sisuda e insegura, com toda a pompa real, mas acima de tudo humana. Entretanto, é muito pouco para quem não acompanha e nem está muito aí com o dia-a-dia da monarquia britânica. É bem mais fácil e menos entediante acompanhar o noticiário pela TV.

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