quinta-feira, 10 de março de 2011

No caminho da genialidade


De pretensos candidatos a gênios o cinema, assim como outras artes, está cheio. Todos os anos, surgem nas telas produções assinadas por novos nomes que alimentam a esperança de renovarmos uma produção cinematográfica que há algum tempo anda dando sinais de esgotamento. Difícil é surgir alguém que realmente encampe essa missão, apresente algo de novo e não fique pelo caminho sucumbindo a produções irregulares. Hoje, se existe um nome que caminha com convicção rumo ao panteão dos grandes cineastas, é Quentin Tarantino. Seu novo filme, ‘Bastardos Inglórios’, representa a evolução de um diretor que soube amadurecer, driblar o egocentrismo e fazer cinema de verdade, não apenas vender uma marca.
Sim, porque desde ‘Pulp Fiction’ Tarantino virou uma marca, a preferida dos cult moderninhos, uma espécie de Almodóvar um pouco mais pop. Mas uma marca criada com talento e autenticidade. Como ninguém, ele soube trabalhar diálogos bem construídos, elementos da cultura pop e violência estilizada, transformando histórias aparentemente banais em ótimas narrativas. Com o respeito adquirido, ganhou liberdade para acrescentar novas referências, especialmente aquelas retiradas da cinematografia clássica e marginal.
Se ‘Kill Bill’ era um exercício revitalizado do western spaghetti e do cinema de artes marciais, ‘Bastardos Inglórios’ segue a linha dos épicos de guerra. A história, mais uma vez, é possível de ser resumida em poucas linhas. Brad Pitt é o Tenente Aldo Raine, que durante a Segunda Guerra Mundial comanda um pelotão cuja tarefa é eliminar soldados nazistas. O principal alvo é o Coronel Hans Landa (Cristopher Waltz), conhecido como ‘Caçador de Judeus’. Nesse jogo de gato e rato ainda há espaço para a história de Shosanna (Mélaine Laurent), jovem judia que se torna uma das figuras chave da trama.
De modo geral, a estrutura de ‘Bastardos Inglórios’ é a mesma do cinema de Tarantino: uma história que se desenvolve em situações localizadas, tendo os consistentes diálogos como fio condutor. A violência também continua presente, com banhos de sangue e algumas peculiaridades, como escalpos arrancados. Dessa vez, porém, o diretor se mostra muito mais paciente, revelando um cuidado para trabalhar as cenas digno de um Akira Kurosawa ou Sergio Leone. A sequência inicial, que funciona como uma espécie de prólogo da história, é simplesmente magistral, uma verdadeira aula de narrativa cinematográfica.
Mais uma vez, Tarantino revela seu talento para descobrir atores. Quem é apresentado ao mundo dessa vez é o alemão Cristopher Waltz, que na pele do Coronel Hans Landa cria um vilão tão temível quanto carismático. Sem pudor, o cineasta acrescenta ao filme figuras reais como Adolf Hitler e seu ministro Joseph Goebbels. E com menos pudor ainda, desconstrói a história, fazendo um desfecho à sua maneira. Esse é o cinema de Tarantino, que com ‘Bastardos Inglórios’ deixa em definitivo a condição de mero cultuado para cavar um lugar entre os gênios da sétima arte.

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