quinta-feira, 10 de março de 2011

Brincando com o medo


Existem filmes que para serem apreciados não podem ser levados demasiadamente a sério. Mais discriminado dos gêneros cinematográficos, o terror sofre porque nem todos têm o devido senso de humor para degustar suas virtudes. Situado na linha tênue entre o medo e o riso, o cinema de terror ‘trash’ tem sua aura cult que por vezes o leva a uma intelectualização desnecessária. Quando, na verdade, tudo que interessa quando se assiste a um filme como ‘Banquete no Inferno’ é se entregar ao simples prazer de se divertir.
À exceção da imagem assustadora, a única coisa que chama a atenção na capa de ‘Banquete no Inferno’ são os nomes de Ben Affleck, Matt Damon e Wes Craven citados como produtores executivos. De resto, temos um diretor pouco conhecido (John Gulager, do qual não me recordo de nenhum outro trabalho) e um elenco de anônimos, que dão ao filme seu frescor e irresponsabilidade necessários.
A história é a mais simples possível e imaginável, sem rodeios. Um grupo de pessoas bebe em um bar no meio do deserto quando de repente entra pela porta um homem ofegante e coberto de sangue. Objetivamente, avisa a todos que se preparem porque o local está prestes a ser atacado por criaturas horrendas, de formas misteriosas, origem desconhecida e sedentas por sangue humano. Bastam alguns minutos para que tenha início o ataque, exigindo que o grupo se prepare para uma batalha sobrenatural.
Para quem está acostumado a filmes de horror, nada de novo ou extraordinário. De fato, o roteiro segue o planejamento básico do gênero, com os personagens padrão (o metido a valentão, a heroína, o loser, a gostosona), a seqüência de sustos intercalada com piadas nonsense e a escala de mortes tradicional. O diferencial está na ironia com o trato da coisa, uma espécie de pacto firmado com o espectador: ‘já que você sabe o que vai acontecer, vamos nos divertir em conjunto’.
Da previsibilidade o diretor arranca os momentos mais divertidos do filme. A apresentação dos personagens no início, por exemplo, é a legitimação direta daquilo que o espectador está acostumado a ver. Surge na tela uma ficha identificando a função do personagem na história e até mesmo seu destino final. Ainda que ele não se cumpra. É a típica brincadeira de quem sabe com que público está lidando, fazendo pouco caso se está sendo levado a sério ou não.
‘Banquete no Inferno’ mescla homenagens ao cinema gore da década de 60, referências aos terrores sanguinolentos dos anos 80 e estética publicitária contemporânea. Há muita escatologia, sangue falso jorrando para todos os lados, efeitos especiais toscos, sustos premeditados e piadas oportunas. Apesar de se aproximar em muito do cinema feito pelo mexicano Robert Rodriguez, há espaço para referencias a clássicos como ‘A Morte do Demônio’e ‘Alien, o 8º. Passageiro’. A curta duração (uma hora e meia aproximadamente) contribui para que a diversão seja completa, sem remorso ou peso na consciência.

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