quinta-feira, 10 de março de 2011

Menos escracho, mais sentimento


Entre os nomes que marcaram o cinema na década de 90, não podem faltar os dos irmãos Bob e Peter Farrelly. Não associou nome à pessoa? São os responsáveis por ‘Débi e Lóide’, ‘Quem Vai Ficar com Mary’ e ‘Eu, Eu Mesmo e Irene’, filmes que inauguraram uma nova linhagem de comédia, marcadas pelo humor politicamente incorreto e doses de escatologia, mas sem abandonar a verve sentimental. Com o passar dos anos a dupla foi perdendo um pouco o fôlego, mas ainda consegue garantir boas risadas, como em ‘Antes Só do que Mal Casado’.
Quem acompanha a obra dos irmãos Farrelly sabe que seus filmes se sustentam em histórias de relacionamentos com toques bizarros. Como revela o título, sua mais recente produção aborda os efeitos de um casamento frustrado. Trata-se de uma refilmagem de ‘O Rapaz Que Partia Corações’, comédia de 1972 que trazia a história de um rapaz judeu que somente após o matrimônio descobre que sua garota não era da mesma religião. A nova história traz algumas alterações quanto às características dos personagens e, claro, insere mais veneno no humor.
Eddie Cantrow (Ben Stiller) é um quarentão que segue solteiro em meio às pressões do pai e dos amigos para que arrume uma esposa logo. Um dia ele conhece Lila, loira, linda e que parece ser a mulher dos seus sonhos. Em pouco tempo os dois se casam e partem para uma lua-de-mel no México. Na viagem Eddie vai descobrir quem realmente é sua esposa: ninfomaníaca, grosseira e ex-viciada, entre outros atributos. À medida que se dá conta do erro que cometeu, conhece e se apaixona por outra garota, sem revelar a nenhuma das duas o dilema que está vivendo.
A estrutura é de uma comédia romântica básica, com seus altos e baixos até chegar ao desfecho nada imprevisível (ainda que com um toque diferenciado). O que faz a diferença nesse caso é o humor ácido dos diretores. Ainda que as piadas escatológicas sejam em escala menor do que no início de carreira, não faltam os tradicionais petardos politicamente incorretos, principalmente contra os mexicanos, mas sobrando também para idosos, negros e homossexuais.
O melhor de ‘Antes Só do que Mal Casado’ está na primeira hora, em que se concentram as piadas e situações mais engraçadas. Há momentos sensacionais como Eddie deslocado na mesa das crianças em um casamento e a viagem do casal embalada pela cantoria de Lila. Na metade seguinte, o ritmo cômico diminui, abrindo espaço para piadas repetidas, alguns clichês de comédias românticas e momentos de escracho não muito inspirados. De todo modo, é possível se divertir até o final sem se cansar. Graças também a Ben Stiller, sem dúvida um dos comediantes mais talentosos da nova geração.
Definitivamente, os irmãos Farrelly envelheceram, já não tem o mesmo espírito juvenil de antes. Hoje, perdem em frescor para nomes que seguiram a trilha por eles aberta, como Seth Rogen e Judd Apatow (do ótimo ‘Superbad – É Hoje’). Ainda assim, são capazes de nos proporcionar diversão honesta e despudorada, o que já é uma qualidade e tanto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário