sexta-feira, 4 de março de 2011

Menos do mesmo


Nunca escondi minha implicância com o espanhol Pedro Almodóvar. Não que o considere um mau cineasta, mas acredito que está longe de fazer jus ao endeusamento embasbacado em torno de sua figura. É um diretor que tem suas peculiaridades e uma marca pessoal, a exemplo de Tim Burton ou Quentin Tarantino. Mas seu estilo kitsch com tons de folhetim novelesco não é algo que me desperte grande interesse. Em todo caso, é consenso que seus últimos filmes têm sido medianos, abaixo daquilo que se espera do diretor. A seus adoradores sinto informar que a redenção ainda não veio com ‘Abraços Partidos’, um melodrama rasgado pouco envolvente.
Dessa vez Almodóvar elaborou uma trama complexa, com idas e vindas no tempo, personagens dúbios e os temas que lhe são tão próximos: dramas familiares, casos amorosos e, claro, tragédias pessoais. O personagem principal é um cineasta com duas faces: no presente ele é Harry Caine, cego e em crise de inspiração; no passado Mateo Blanco, em plena atividade. Ambos são interpretados por Lluís Homar, visto em outro filme de Almodóvar, ‘A Má Educação’.
Alternando passado e presente,vamos sendo apresentados ao universo de pessoas ao seu redor. Nos dias atuais ele é cercado por sua produtora e o filho dela, um jovem também a caminho de ingressar no mundo do cinema. No passado, a figura central é Lena (a musa do diretor, Penélope Cruz), jovem atriz amante de um milionário que logo se envolve amorosamente com Mateo. As duas narrativas vão se cruzando até explicar o desfecho trágico do romance e outras dúvidas lançadas ao espectador.
Em se tratando do cinema almodovariano, não há maiores novidades. Além dos temas que lhe são familiares, estão presentes referências a alguns de seus principais inspiradores, como Frederico Fellini e Luchino Visconti. O mais divertido talvez seja a referência a si mesmo: o filme rodado dentro do filme, ‘Chicas e Maletas’, parece uma reedição de ‘Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos’, primeiro grande sucesso de Almodóvar. Tanto nas cores, na feição das atrizes e na história, é impossível não remeter à comédia de 1987.
E aí se resume a diversão de ‘Abraços Partidos’. A despeito da complexidade da trama elaborada pelo diretor, seu desenvolvimento é dos mais pobres e previsíveis. Já conhecendo o trabalho de Almodóvar, o espectador conclui antes mesmo que acabe a cena qual será seu desfecho. Com seus dramas mal ajambrados, o roteiro nada deixa a desejar a qualquer novela global. Nem mesmo o exagero, tão admirado pelos fãs do cineasta, se faz presente. É tudo muito clean, comedido e, em muitos casos, aborrecedor. 
Também diferente de outras produções, seus personagens não têm carisma algum. Até mesmo Penélope Cruz, sempre competente e esbanjando sensualidade, acaba passando quase despercebida. Consta que Almodóvar sofreu com sérios problemas de saúde nas filmagens, o que merece um desconto, mas não justifica um desempenho tão pífio. Se é apenas uma crise de inspiração ou a derrocada de um cineasta, o tempo se encarregará de dizer.

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