quarta-feira, 2 de março de 2011

Fragmentos da vida


Dramas familiares estão certamente entre os maiores filões do cinema desde os seus primórdios. Afinal, quem já não viveu uma situação em família que renderia uma boa história? Boas histórias nem sempre são sinônimos de filmes interessantes, por isso a força dessas produções residem quase sempre na habilidade de seus roteiristas e no talento dos atores que os protagonizam. ‘A Família Savage’ conseguiu unir esses dois requisitos para tratar de temas que parecem simples, tão próximos de nós, que nem nos damos conta de sua dimensão.
A primeira responsável por essa experiência bem-sucedida é a roteirista e diretora Tamara Jenkins, cujo currículo tem apenas alguns curtas-metragens e um longa independente não lançado no Brasil. Seu trabalho em ‘A Família Savage’ rendeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro deste ano, o que deve nos fazer ver seu nome em alguns créditos daqui para a frente. Sua responsabilidade foi dividida com dois grandes atores, Philip Seymour Hoffmann e Laura Linney, também indicada ao Oscar deste ano, na categoria melhor atriz.
Laura e Philip são, respectivamente, Wendy e Jon, dois irmãos que mantêm um relacionamento distante, física e sentimentalmente. Ela mora em Nova York, sonhando em ser dramaturga, e ele em Buffalo, no interior, trabalhando como professor universitário. A reaproximação entre eles acontece quando recebem a notícia de que o pai idoso (Philip Bosco, também em grande atuação) perdeu a companheira e está com problemas mentais. Obrigados a cuidar do velho, também voltam a conviver depois de muito tempo.
Como em todo drama familiar, os protagonistas têm diferenças, que já vêm do passado. Apesar de os motivos não serem explicitados, é evidente que pai e filhos jamais tiveram uma relação amistosa e que as rusgas estão longe de serem esquecidas. Entre os dois irmãos, basta a retomada do convívio para que entre em choque o estilo de vida de cada um. Na verdade, o que os coloca em conflito são muito mais as semelhanças do que as divergências entre ambos.
Enquanto alguns diretores optam por focar a disfuncionalidade familiar, a diretora Tamara Jenkins lança mão da naturalidade. Wendy e Jon não são criaturas anormais, são apenas pessoas solitárias, próximas dos 40 anos, que não têm muita habilidade em administrar suas crises emocionais. Isso passa a ficar evidente quando os dois são confrontados com uma situação da qual gostariam de se livrar rapidamente, mas não podem. A doença do pai parece um fardo muito maior para os filhos do que para o idoso, que vê a morte se aproximando.
Há pouco humor em ‘A Família Savage’, quando muito uma fina ironia para quebrar o gelo. Mas isso não faz dele um drama piegas ou depressivo. As atuações contidas da dupla principal e a habilidade da diretora em discorrer a história com naturalidade fazem com que ela se torne identificável em muitos momentos. Sem grandes artifícios narrativos ou visuais, tudo flui com uma simplicidade cativante. Tão simples que nem parece tão triste.

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