sábado, 12 de março de 2011

A escola sob outro ângulo


Escolas sempre foram um terreno fértil para o cinema. Pela relação que todos nós temos com ela, pela diversidade de personagens e conflitos possíveis nesse ambiente, é um espaço que permite boas alternativas de tratamento, prato cheio para qualquer cineasta. Sejam comédias turbinadas pelos hormônios da adolescência ou dramas apoiados na relação professor/aluno, são muitos os exemplares desse gênero. Nenhum, porém, havia abordado esse palco de forma tão próxima, honesta e realista quanto o francês ‘Entre os Muros da Escola’, quase um documentário romantizado.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2008, ‘Entre os Muros da Escola’ se baseia em livro homônimo escrito pelo professor François Bégaudeau, autor do roteiro em parceria com o diretor Laurent Cantet. O próprio François, aliás, é quem representa o personagem principal, um professor de escola pública na França. Seus alunos, na faixa de 14 e 15 anos, são representados por não atores, selecionados em uma oficina e que também utilizam seus nomes reais.
A história em si não tem grandes artifícios. Ela apenas acompanha o dia-a-dia de François em sua turma, que a exemplo de toda escola, tem seus alunos padrão: o CDF aplicado, o rebelde invocado, o engraçadinho, o introvertido... essa gama de personagens, no entanto, serve para ilustrar um retrato da França atual, tomada por imigrantes das mais diversas nacionalidades: chineses, africanos, árabes, entre outros. Nesse contexto, uma simples discussão sobre futebol revela muito mais do que a torcida por um país, aponta conflitos étnicos e questionamentos acerca da própria nacionalidade.
Você já deve ter visto em muitas sessões da tarde filmes em que um professor cai em uma turma problemática, aos poucos vai impondo respeito e termina glorificado como herói. Aqui o ponto de partida é praticamente o mesmo, mas o desenvolvimento é diferenciado. Tire boa parte do romantismo, acrescente tons realistas e o resultado será um drama em que não há soluções mágicas, apenas alternativas mais ou menos viáveis. O que não significa um tratamento pessimista ou cruel, apenas mais racional.
A naturalidade é o ponto alto de ‘Entre os Muros da Escola’. O roteiro serviu apenas como um direcionamento para os personagens e um fio condutor dos diálogos, criados a partir das experiências vividas pelos jovens atores em sua vida escolar. Nessas discussões se encontra uma riqueza imensa, que revela não apenas os conflitos e dúvidas de uma juventude conturbada, mas também ensinamentos capazes de surpreender o mais experiente professor. 
Para permitir que esse texto flua naturalmente, o diretor Laurent Cantet usa do mínimo de artifícios cinematográficos possível. Não há trilha sonora e as câmeras se portam como se fossem apenas mais um aluno na sala de aula, captando as reações de quem fala, ouve e não está nem aí. Sem querer ser edificante, moralista ou sentimental, ‘Entre os Muros da Escola’ representa um tipo de cinema que merece ser copiado: sincero, direto e calcado nas simples, mas boas ideias.

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