sábado, 12 de março de 2011

Do brilho à decepção


Uma dupla de protagonistas envolvente, uma história promissora, um roteirista cool e... um resultado final que coloca tudo isso a perder. Não há combinação mais decepcionante para um fã de cinema do que essa, ilustrada perfeitamente em ‘Educação’. A produção inglesa, que chegou a concorrer ao Oscar de melhor filme deste ano, chama a atenção em um primeiro momento pelo frescor, pela tentativa de reciclar uma narrativa básica e transformá-la em novidade para o espectador. Vã esperança. O filme, que até começa bem, se torna cada vez mais aborrecedor e termina da maneira mais decepcionante possível.
Vamos primeiramente aos nomes que fizeram de ‘Educação’ algo tão especial. Primeiro: Carey Mulligan. A jovem atriz inglesa, de vinte e poucos anos, teve em suas mãos um personagem complexo, de uma adolescente que vê de repente a monotonia de sua vida ser substituída por um novo universo apresentado por um homem mais velho. A atriz tanto se saiu bem que foi indicada ao Oscar e mais uma leva de prêmios pela atuação cativante e resplandecente.
Segundo nome: Nick Hornby, escritor de obras como ‘Alta Fidelidade’ e ‘O Grande Garoto’, adorado por jovens e tiozinhos descolados, em vista de sua capacidade em elaborar narrativas despojadas e bem escritas, misturando cultura pop e sentimentos universais. O inglês foi responsável pelo roteiro de ‘Educação’, que dialoga com sua obra ao retratar juventude, cultura e seus efeitos.
Mulligan é Jenny, uma adolescente de 16 anos cuja vida na década de 1960 se resume ao circuito casa-escola, estudando incansavelmente para conquistar um lugar na Universidade de Oxford. A rotina acaba quando ela conhece David (Peter Sarsgaard), um sujeito 20 anos mais velho, que a seduz da maneira mais irresistivelmente possível: levando-a para concertos, jantares e viagens aos locais que Jenny sempre sonhou conhecer. O charme de David é tamanho que conquista até mesmo os rígidos pais, interpretados por Alfred Molina e Cara Seymour.
Os dois personagens principais têm seus encantos: Jenny combina o deslumbramento da pouca idade com uma certa maturidade alcançada pelo conhecimento. Já David, com sua pinta de galã intelectual, deixa entrever um jeito malandro de ganhar a vida, de pouco esforço e moral duvidosa. A combinação, que poderia ser explosiva e resultar em um grande filme, se perde em um roteiro frouxo. Nos primeiros momentos a história caminha bem. Ao invés de evoluir, contudo, a narrativa entedia e descamba de vez quando revela o segredo do galanteador. Era a deixa que faltava para um final insosso, que simplesmente abandona seus personagens ao léu. 
‘Educação’ poderia ser um filme transgressor, levar a efeito os questionamentos levantados por sua protagonista: qual a escola que realmente conta para a vida, aquela das experiências reais inesquecíveis ou a dos livros, que pode levar a um destino irreversível? A ousadia, porém, fica apenas no quase. Em seu desfecho, a diretora Lone Scherfig só reforça o conservadorismo e o tom moralista que soam como uma lição de moral simplória e pouco convincente.

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