sábado, 12 de março de 2011

Cortina de fumaça


Premiado em alguns dos principais festivais brasileiros de cinema, ‘É Proibido Fumar’ foi um dos filmes nacionais mais elogiados pela crítica no ano passado. Minha expectativa em relação à produção era grande não apenas por conta disso, mas principalmente por ser o segundo trabalho da diretora e roteirista Anna Muylaert, que em sua estreia fez o ótimo ‘Durval Discos’. Por mais que tenha me esforçado em valorizar suas virtudes, por algum motivo ‘É Proibido Fumar’ não conseguiu me encantar, deixando uma sensação de vazio não preenchido.
Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário. São muitos os predicados que fazem dele um artigo de luxo dentro do cinema nacional, especialmente por fugir de alguns lugares comuns da produção atual. Em primeiro lugar, seus personagens centrais: nada de pessoas atormentadas ou desajustadas. Baby (Glória Pires) e Max (Paulo Miklos) são pessoas normais, solteirões de meia-idade que se conhecem quando se tornam vizinhos de apartamento e passam a se relacionar.
Nenhum deles é maníaco-depressivo, tem sérios desvios de conduta ou usa um revólver em algum momento do filme. São pessoas como algumas com as quais você certamente se relaciona. Baby é uma professora de música que vive discutindo com as irmãs, enquanto Max é um cantor de churrascaria que tenta se desvencilhar do último relacionamento. Os dois cozinham, conversam sobre música e fumam maconha. A princípio, o único entrave para o romance é o incontrolável hábito de Baby de acender um cigarro a todo momento.
Com esse argumento em mãos e dois ótimos atores à disposição, a diretora tinha para si a possibilidade de desenvolver uma comédia de costumes, centrada nos diálogos aparentemente banais e cotidianos. E assim a história se desenvolve até um acontecimento trágico (por que todo filme nacional precisa ter algum?), que muda o curso da narrativa. Quer dizer, muda, mas nem tanto assim.
Quem assistiu a ‘Durval Discos’ percebe que a estrutura narrativa dos dois filmes é parecida. De fato. O problema é que em ‘É Proibido Fumar’ a cineasta não conseguiu imprimir a mesma dinâmica da produção anterior. Apesar de espontâneos, os diálogos são em grande parte superficiais e por vezes não se decidem entre o humor e o drama. Participações especiais como as da cantora Pitty, dos veteranos Paulo César Pereio e Antônio Abujamra parecem ter sido colocadas apenas para dar um ar mais cult, tentando arrancar risos, mas extraindo apenas um leve sorriso.
Mesmo a tentativa de promover uma reviravolta na trama não chega a empolgar. Quando parece que a narrativa vai ganhar um novo ritmo a diretora segura a mão e tira o pé do acelerador. Não é à toa que ‘É Proibido Fumar’ teve um desempenho abaixo da expectativa nos cinemas. É um filme simpático, com excelentes interpretações, mas que não consegue ir além do trivial. Se por um lado rompe algumas barreiras do cinema autoral, empaca em um certo conservadorismo. Uma pena, em se tratando de uma diretora que já demonstrou talento acima da média nacional.

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