sexta-feira, 11 de março de 2011

Dilemas em tom sombrio


Se fizéssemos um rol de profissões enfocadas pelo cinema contemporâneo, é bem provável que a de advogado estivesse entre as primeiras. De comédias bestas como ‘O Mentiroso’ (com Jim Carrey) a fantasias macabras como ‘O Advogado do Diabo’, passando pelas numerosas adaptações dos livros de John Grisham, os dilemas de quem trabalha com a lei sempre renderam histórias atraentes aos espectadores. Mas a meu ver, poucas tão envolventes como a do profissional de nome Michael Clayton, protagonista do filme homônimo que no Brasil se transformou em ‘Conduta de Risco’.
O filme é a estreia mais que bem-sucedida na direção de Tony Gilroy, roteirista da trilogia ‘Bourne’, entre outras produções. ‘Conduta de Risco’ foi indicado a sete Oscar, incluindo melhor filme e diretor, sendo que Tilda Swinton abocanhou a estatueta de melhor atriz coadjuvante. Nada mal para um estreante, diga-se de passagem, merecedor de tais honrarias.
O tal Michael Clayton do título (George Clooney) é um advogado que se auto-intitula um ‘faxineiro’, ou seja, é sempre chamado para limpar a sujeira que os outros fazem. Trabalhando para uma grande empresa de advocacia, sua especialidade é solucionar casos em que é necessário ocultar alguma situação espinhosa. De conduta profissional duvidosa, tem ainda mais problemas na vida pessoal, afundado em dívidas com jogo, uma relação conturbada com a ex-mulher e pouca atenção para o filho.
Algo muda quando Clayton é chamado para resolver a situação de Arthur Edens (Tom Wilkinson), conceituado advogado da firma que parece ter surtado e decidido sabotar seus patrões ao tomar partido das vítimas de uma grande empresa química. É quando o advogado mergulha em um dilema moral, vê sua vida em risco e se coloca em rota de colisão com Karen Crowder (Tilda Swinton), defensora da empresa química e que demonstra não ter o mínimo de escrúpulos.
Com todos esses ingredientes em mãos, o diretor consegue construir uma trama que envolve drama psicológico, conflitos morais e suspense. Gilroy foge dos clichês costumeiros do gênero ao desenvolver a história em um tom sombrio, sem exageros formais ou apelos melodramáticos. As reviravoltas são conduzidas de maneira sóbria, não para surpreender o espectador de uma hora para outra, mas no ritmo em que as coisas começam a se confundir na cabeça do personagem principal.
Se o diretor tem seus méritos, também deve muito ao elenco escolhido. George Clooney, por exemplo, é a alma de ‘Conduta de Risco’. Seu personagem tem a frieza de um profissional inescrupuloso, as fraquezas de um pai frustrado e, acima de tudo, o desconforto de quem pisa em um terreno de incerteza. Tom Wilkinson e Tilda Swinton são aqueles atores que você já viu em algum outro filme, mas não lembra direito. Atores discretos, mas de uma eficiência indiscutível.
A bela fotografia e a trilha sonora contribuem para o tom sombrio e amargo de ‘Conduta de Risco’. Mesmo com um final que faz algumas concessões para o cinemão hollywoodiano, é um filme de grandes virtudes, inteligente e envolvente do primeiro ao último minuto.

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