quinta-feira, 10 de março de 2011

De volta ao terror


Era uma vez um cineasta que começou jovem, com produções independentes baratas, se tornou conhecido do público e conquistou a fama, exibindo seu nome nos créditos de blockbusters. Com os bolsos cheios e reconhecimento de sobra, eis que o diretor decide relembrar o início de carreira, retomando uma produção de baixo orçamento apenas para se divertir e agradar seus fãs mais antigos. São justamente nesses momentos que essas pessoas revelam seu verdadeiro lado artista, mostrando se a fama comprometeu ou não seu talento. No caso de Sam Raimi, felizmente não. Ao regressar para o terror, onde sua promissora carreira começou, o diretor se mostra com as energias renovadas em ‘Arraste-me Para o Inferno’.
O público mais jovem conhece Sam Raimi da trilogia ‘Homem Aranha’, recordista de bilheteria, elogiada por seus fãs, mas totalmente insossa para mim. Quando ouço seu nome, prefiro recordar do jovem que, com um pouco de dinheiro e auxílio de amigos (entre eles um de nome Joel Coen), fez um dos melhores filmes de terror da década de 80, ‘Evil Dead – A Morte do Demônio’. Veio a sequência, intitulada no Brasil de ‘Uma Noite Alucinante’, feita com mais recursos, mas com o mesmo espírito atrevido do primeiro. Quase três décadas depois, ainda resta essa disposição semi-adolescente correndo em suas veias.
‘Arraste-me Para o Inferno’ traz como personagem principal a jovem bancária Christine Brown (Alison Lohman), ambiciosa porém um tanto boazinha demais. A oportunidade de quebrar esse estigma surge quando uma velha cigana lhe implora uma extensão de crédito para sua hipoteca. Christine não cede, o que se mostra uma decisão das mais infelizes. Após uma luta tão bizarra quanto eletrizante, a velha amaldiçoa a garota, condenando-a a ser perseguida por um demônio e arrastada para o inferno. Com a ajuda do namorado e de um vidente, ela terá a missão inglória de tentar se livrar da maldição.
Os primeiros trabalhos de Raimi se caracterizavam por intercalar momentos assustadores com risos. Não aquele riso nervoso, contido, mas o riso debochado, de situações que beiram uma comédia pastelão. A mesma postura é mantida em seu novo filme. Não há pudor em fazer o espectador se assustar, para no momento seguinte levá-lo às gargalhadas.
O melhor de ‘Arraste-me Para o Inferno’ é notar o amadurecimento de seu diretor. Com uma grande produtora por trás e um orçamento razoável, ele não tem a mesma liberdade criativa de ‘Evil Dead’, sendo obrigado a fazer algumas concessões. Mas isso é compensado em larga medida com a capacidade de mesclar em um único trabalho as mais diversas influências. Ao longo do filme é possível encontrar traços do trash de Roger Corman, do gore sanguinolento e da plasticidade de Dario Argento.
Merecem um registro à parte os créditos iniciais do filme, de um assombro e apuro visual que, aliados à trilha sonora, já valem o espetáculo. Fica evidente que o diretor se divertiu bastante ao rodar a produção, como alguém que relembra as brincadeiras da adolescência. Com a diferença de que compartilhou a diversão tanto com seus velhos fãs como aqueles que mal o conhecem.

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