quinta-feira, 10 de março de 2011

Cinema para ouvir

Para quem é fã de cinema e música, cinebiografias musicais são um prato cheio. Na verdade, teriam tudo para ser, mas dificilmente conseguem conciliar as duas responsabilidades, de satisfazer os ouvidos e conceber um produto cinematográfico de qualidade. A maioria para no primeiro quesito, destilando sua trilha sonora com exuberância, mas embalada por roteiros que se sustentam com dificuldade. ‘Cadillac Records’, por exemplo, tem uma história das mais ricas e interessantes para ser levada às telas. Porém, naufraga na superficialidade e se salva apenas por seus números musicais.
O que está na tela é nada menos que a origem do rock’n roll, no final dos anos 40, quando os bluesmen deixaram seus redutos no sul dos Estados Unidos e começaram a conquistar os rádios. O fio condutor da trama é a lendária Chess Records, que lançou para o mercado nomes como Muddy Waters, Chuck Berry e Etta James. Na direção um nome feminino e desconhecido, Darnell Martin. Apesar de não ter nenhum grande sucesso no currículo, já é uma veterana do cinema independente e da TV norte-americana.
A diretora foca sua história em dois personagens principais. Um é Leonard Chess (Adrien Brody), polonês que começa abrindo um bar em uma comunidade negra de Chicago e logo se torna dono de uma gravadora. O segundo é Muddy Waters (Jeffrey Wright), músico que deixa o campo para tentar a sorte na cidade grande. Quando os dois se encontram, abrem a trilha de sucesso da Chess Records, que logo se transforma em um fábrica de hits.
O título do filme é uma alusão ao hábito de Leonard Chess, de sempre presentear seus artistas com um cadillac. Pela gravadora passam nomes como Little Walter (Columbus Short), Chuck Berry (Mos Def), Howlin’ Wolf (Eammon Walker) e Etta James (a cantora Beyoncé Knowles). Cada um com uma personalidade diferente, que rende problemas com álcool, drogas, dinheiro e mulheres. O maior pecado de ‘Cadillac Records’ é condensar tantas histórias interessantes em uma só, tratando personagens riquíssimos como coadjuvantes.
Tudo no filme é contado superficialmente, de passagem. A ascensão e queda de Muddy Waters, que apresentou o blues às grandes plateias. A trágica história de Little Walter, um jovem cujo talento foi consumido pelas drogas. Chuck Berry e sua influência sobre os roqueiros brancos. Etta James e sua incapacidade de lidar com os traumas da vida pessoal. Howlin’ Wolf, que se apresenta como um dos personagens mais instigantes, aparece e desaparece da trama como um fantasma. Conflitos raciais, amorosos e de personalidade são diluídos em clichês que tornam o filme previsível do início ao fim.
Pelo menos aqueles que vão atrás de ‘Cadillac Records’ pela música não sairão decepcionados. Os responsáveis por interpretar as canções de seus personagens não deixam nada a desejar e compõem uma trilha sonora formidável. Algumas das interpretações para as apresentações musicais também são de cair o queixo. Enfim, é um filme mais para ser ouvido do que visto.

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