sábado, 12 de março de 2011

Alienígenas do terceiro mundo

 
A existência ou não de seres alienígenas povoando outros planetas é uma dúvida que vai persistir na humanidade por toda sua existência ou, senão, até o dia em que alguma espaçonave com criaturas vindas de um mundo diferente pousar sobre a Terra. Bom para os cineastas, que podem continuar exercitando seu imaginário sugerindo as mais diversas situações envolvendo o que se esconde na vastidão do universo. Quando foi lançado, ‘Distrito 9’ foi saudado como inovador, não pelo trato dos extraterrestres, mas dos humanos com os quais eles iriam conviver. Se não merecia uma reação tão eufórica, o filme não deixa de ter seus méritos, colocando um tempero diferente nesse tema eternamente instigante.
‘Distrito 9’ foi uma das grandes sensações da temporada cinematográfica dos Estados Unidos. Rodado na África do Sul, por um diretor estreante (Neil Blomkamp), com elenco desconhecido e um orçamento de US$ 30 milhões (modesto para os padrões hollywoodianos), o filme teve sucesso estrondoso nas bilheterias. Tudo bem que por trás, na produção, havia a assinatura do senhor dos anéis Peter Jackson, usada evidentemente como chamariz para vender o peixe. Isso, porém, não tira o caráter inventivo que norteia a produção, pelo menos em sua primeira parte.
O filme começa como se fosse um documentário, relatando de que maneira um grupo de alienígenas se instalou em Johanesburgo, capital da África do Sul. Certo dia, uma grande espaçonave estacionou sobre a cidade. Ao invadir o local, militares encontraram milhares de criaturas subnutridas de aspecto repugnante (apelidadas de camarões). A solução encontrada foi confiná-las em um gueto, onde foram se reproduzindo e formando uma comunidade tal qual as grandes favelas do terceiro mundo.
Esse é o tal Distrito 9, que se torna um reduto de miséria e criminalidade, gerando conflitos entre a população local e os camarões. Para tentar resolver essa situação, o governo decide remover a comunidade alien para um lugar mais distante, deflagrando uma operação liderada pelo burocrata Vikus van der Merve. Ao tomar contato com uma substância misteriosa encontrada em um dos barracos alienígenas, o funcionário passa a sofrer estranhas mutações, que colocam a operação em risco.
Na maioria dos filmes sobre extraterrestres, a primeira pergunta que se faz é se eles são do bem ou do mal. As criaturas de ‘Distrito 9’ parecem ter se assimilado de tal maneira à vida terrestre que guardam em si uma dubiedade, por vezes na forma de seres inofensivos, por outras atuando como desordeiros. O grande vilão, nesse caso, parece ser mesmo o homem. Por se passar na África do Sul, foram inevitáveis as comparações com o regime do apartheid, que durante décadas segregou e humilhou a população de cor negra, a exemplo do que se passa com os alienígenas.
É uma pena que a originalidade da ideia não se sustente com o roteiro. Na primeira parte, enquanto se exibe como falso documentário, ‘Distrito 9’ tem ritmo empolgante, bom humor e narrativa consistente. Quando acontece a virada na trama, sucumbe a clichês e à ação desenfreada. De todo modo, é um início promissor para um jovem cineasta, que demonstra inquietude e inventividade.

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