sexta-feira, 11 de março de 2011

Adrenalina camuflada


Descobri recentemente, lendo o texto de um crítico, uma nova expressão em voga para denominar determinado segmento da atual produção cinematográfica: infotenimento. Como revela a etimologia da palavra, trata-se de aliar informação e entretenimento. Na prática, significa utilizar-se de um argumento com conotações políticas ou históricas para embalar uma aventura a ser saboreada com pipoca. Dessa forma, o espectador tem a sensação de estar assistindo a uma produção “inteligente”, enquanto seu corpo se diverte com altas doses de adrenalina. Essa é a fórmula utilizada por ‘Diamante de Sangue’, que usa de muita ação e aventura com a pretensão de denunciar o comércio ilegal de diamantes na África.
Apesar de fazer mais de 20 anos que o mundo cantou ‘We are the World’ (famosa canção contra a fome na África), foi apenas na última década, quando o horror das guerras civis ganhou a mídia, que Hollywood voltou seus olhos para o continente africano. Daí nasceram produções como ‘Hotel Ruanda’, que reviveu o massacre ocorrido naquele País, e ‘O Jardineiro Fiel’, que também denunciava a violência e miséria gerados por regimes ditatoriais. Mas, por mais que conservassem o olhar de turista, essas produções conduziam o tom de denuncismo com relativa coerência. Coisa que não acontece em ‘Diamante de Sangue’.
O cenário dessa vez é Serra Leoa, mais um entre tantos países africanos controlados por ditadores e assolados pela guerra civil. Lá, encontram-se três personagens: Danny Bowen (Leonardo Dicaprio), contrabandista de pedras preciosas; Solomon Vandy (Djimon Hounsou), um paupérrimo garimpeiro; e Maddy Bowen (Jennifer Connely), jornalista americana em busca de um furo de reportagem. A descoberta de um valioso diamante une os três, cada qual com seu interesse particular. E todos em prol do objetivo maior do diretor Edward Zwick: denunciar os meandros de uma indústria que explora milhares de civis e serve de combustível para a miséria e a violência.
O que se vê na tela, na verdade, é um exercício de ilusionismo. De início, o espectador percebe que a história denuncia uma situação problemática, em algum lugar ainda mais problemático. Já sensibilizado, ele está preparado para a diversão. Então, o diretor usa desse artifício para deflagrar uma seqüência de perseguições, tiros e explosões, entremeadas por imagens de miséria, maus tratos e diálogos politicamente corretos. A ordem é manter a adrenalina do espectador, mas de vez em quando alertando-o que existe uma causa por trás de tudo isso.
Ok, a intenção pode ser das melhores e, talvez, até devamos levar em consideração que se trata de uma estratégia para levar a mensagem a um público maior. O problema é que o cineasta apenas se faz chocar despejando algumas imagens fortes e, no final, o roteiro supostamente denunciante e provocador se mostra tolo e ingênuo. Mesmo as sólidas interpretações de Dicaprio e Hounsou não são suficientes para fazer de ‘Diamante de Sangue’ um filme respeitável. Fica a sensação de que, tanto como a pobre população africana, nós espectadores também somos explorados pelo pretenso bom-mocismo da indústria hollywoodiana.

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