sábado, 12 de março de 2011

A adolescência como ela é


Trabalhar com distribuição de filmes no Brasil é uma atividade para quem não gosta de cinema. Cheguei a essa conclusão ao perceber que para vender um filme tudo é possível, até mesmo (ou principalmente) ludibriar o espectador. Imagine você, caro cinéfilo, se deparando na locadora com uma produção chamada ‘Férias Frustradas de Verão’. A primeira coisa que vem à cabeça é que se trata de um novo episódio da famosa série protagonizada pelo inesquecível Chevy Chase. Mas ele não aparece nos créditos. Hum... Porém, a capa traz termos como ‘hilariante’ e ‘divertido’, logo, deve ser algo do gênero. E lá vai o pobre espectador levando gato por lebre. Convenhamos, é uma artimanha desleal e rasteira de nossos ávidos distribuidores.
Até porque ‘Férias Frustradas de Verão’ é um belo filme. O problema é que não tem nada a ver com aquilo que está sendo vendido. Ruim para o espectador que busca uma comédia escrachada e acaba, esse sim, ficando frustrado, e para quem busca um filme de adolescentes mais inteligente e sensível, que passa batido. Feito o desabafo, falemos sobre as qualidades dessa simpática produção, voltada para o público jovem, mas acessível também à plateia adulta.
‘Férias Frustradas de Verão’ é escrito e dirigido por Greg Motolla, que já havia lidado com peripécias adolescentes no ótimo ‘Superbad – É Hoje’. Em sua nova produção, contudo, o diretor optou por seguir uma linha diferente. Se ‘Superbad’ era mais divertido, com situações de comédia maluca, aqui o tom é muito mais contido, melancólico até. Há algumas boas piadas, personagens caricatos, mas no geral o tratamento é bem mais frio.
O ano é 1987. James (Jesse Eisenberg, uma das novas caras promissoras da temporada) é um adolescente que, prestes a ir para a faculdade, se vê obrigado a trabalhar para conseguir dinheiro. A única alternativa viável é um emprego de verão em um parque de diversões, onde conhece Em (Kristen Stewart, da série ‘Crepúsculo’), garota pela qual, claro, ele irá se apaixonar. A jovem lhe dá brecha, gosta dele, mas esconde o caso secreto que mantém com Mike (Ryan Reynolds), sujeito mais velho, roqueiro e casado. Em torno desse triângulo amoroso se desenrola toda uma trama de paixões, incertezas, mistérios e descobertas típicas da adolescência.
O diferencial de ‘Férias Frustradas de Verão’ em relação às comédias adolescentes em geral é que os personagens não são um conjunto de estereótipos (o loser, o engraçadinho, o ‘pegador’, a inocente). São jovens bonitos, mas com problemas e angústias que todos nós temos. Quem nunca teve medo de se apaixonar? Quem não se viu dividido entre o certo e o duvidoso? Quem nunca quis experimentar o perigoso? Esse é o universo em que vivem, o qual parece tão pequeno aos outros, mas é imenso para seus integrantes.
Para quem conheceu sua obra, é inevitável lembrar dos filmes de John Hughes. Não apenas por se passar na década de 80, mas por retratar a adolescência como uma época em que os sentimentos (não só os hormônios) estão à flor da pele. Seu olhar pode ser realista, por vezes tristonho, mas nunca desesperançoso.

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