segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sangue novo e olhares diferenciados



Independente de suas qualidades finais, ‘5X Favela – Agora por Nós Mesmos’ já nasceu com a alcunha de grande acontecimento no cinema brasileiro. Eram dois seus objetivos principais. Primeiro dar oportunidade a jovens moradores de favelas cariocas de realizar seus próprios filmes e, quem sabe, conceber uma nova geração de cineastas. Segundo, levar ao grande público uma outra visão das comunidades pobres do Rio de Janeiro, que não aquela de diretores interessados em promover espetáculo à base da miséria e da violência. Quanto ao primeiro objetivo, é preciso aguardar para ver. O segundo foi cumprido com méritos e, mais do que isso, resultou em um belo filme que escapa de todas as armadilhas passíveis a esse tipo de produção.
Esse novo filme reedita um projeto de 1962. O primeiro ‘Cinco Vezes Favela’ levou jovens diretores universitários aos morros para retratar um pouco da vida das comunidades suburbanas cariocas. Dentre esses cinco jovens estavam João Pedro de Andrade, Leon Hirzman e Cacá Diegues, hoje cineastas consagrados. Foi Diegues quem decidiu dar nova vida ao projeto, agora com uma proposta mais ousada: selecionar diretores da própria favela, que após oficinas com importantes nomes do cinema nacional, conceberam os cinco episódios de ‘5X Favela’.
Os episódios transitam entre o humor e o drama humanista, com pouco enfoque à violência desmedida de ‘Cidade de Deus’ ou ‘Tropa de Elite’. O primeiro, ‘Fonte de Renda’, mostra um jovem que consegue ingressar na universidade, mas vê no tráfico de drogas uma alternativa para bancar os estudos. Se a premissa é interessante, o desenvolvimento da narrativa deixa um pouco a desejar, amenizando a tensão que lhe seria propícia. Também abordando a criminalidade, mas com um tratamento mais contundente, é ‘Concerto Para Violino’, eficiente história de um triângulo amoroso afetado pela marginalidade.
‘Deixa Voar’ até parece enveredar pelo mesmo caminho, mas opta pelo humanismo ao mostrar o adolescente que precisa entrar em uma comunidade rival para buscar uma pipa. Os melhores episódios, no entanto, são aqueles que enveredam pela comédia. Especialmente ‘Feijão com Arroz’, em que dois garotos fazem de tudo para conseguir dinheiro para comprar um frango. O último episódio, ‘Acende a Luz’, lembra as comédias italianas com sua profusão de personagens eloquentes, impacientes porque acabou a energia elétrica na comunidade justamente na véspera de Natal.
‘5X Favela’ consegue atingir um resultado difícil de ser alcançado por produções divididas em episódios: mantém unidade e coesão, mas garantido identidade própria a cada uma das histórias. Por mais que haja altos e baixos, não se chega a uma disparidade que comprometa o acompanhamento do conjunto. Sem apelar a estereótipos ou forçar um tom de crítica social, mostra algo muito mais importante do que apenas um bom filme: revela sangue novo, com disposição para buscar novos caminhos para a acomodada produção nacional.

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