domingo, 22 de maio de 2011

Retrato de uma geração virtual


Antes de qualquer coisa, faz-se necessário registrar a incompreensível rejeição que Ponta Grossa teve a ‘A Rede Social’. A despeito do bom desempenho nas bilheterias, do fato de ter sido um dos principais concorrentes ao Oscar deste ano e do apelo de sua história (a criação do Facebook, o principal site de relacionamentos da internet), o filme foi e permanece solenemente ignorado por aqui. Primeiro ao passar longe dos cinemas e agora das videolocadoras locais, mesmo tendo sido lançado em DVD no início de março. Depois fica fácil botar a culpa na pirataria quando se buscam meios alternativos de saciar nossos desejos fílmicos.
Tal desabafo é justificável não apenas pelo aspecto comercial, mas por ‘A Rede Social’ ser emblemático nessa era das relações virtuais. Mais do que simplesmente ‘o filme do Facebook’, como ficou caracterizada, a obra de David Fincher é um envolvente retrato de uma geração que transfere cada vez mais as emoções do relacionamento humano para o computador. Dependendo do aspecto pelo qual se observe, é uma história assustadora, liderada por um sujeito frio e por vezes repugnante, mas no fundo apenas carente.
Esse sujeito é Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), que após levar um pé na bunda da namorada resolve se vingar criando um site para os colegas de faculdade compararem as garotas. O site bomba e revela um pequeno gênio da informática, que logo é convidado para criar uma rede interna de relacionamentos. Com a ajuda do brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), Zuckerberg passa a perna em seus contratantes e cria aquela que viria a ser a maior rede social do planeta. Não tarda até o jovem passar a perna também no melhor amigo, originando a famosa disputa judicial que envolveu o Facebook.
O Zuckerberg interpretado com maestria por Jesse Einsenberg é uma pessoa cujo raciocínio é quase impossível de acompanhar. Com sua fala acelerada, é capaz de expressar várias ideias em uma única frase, descartando-as e substituindo por outras segundos depois. É um comportamento que expressa a velocidade com que as informações se propagam na internet, vistas e revistas em um piscar de olhos. Diretor competente e tarimbado, Fincher procura imprimir esse ritmo na narrativa, com uma dinâmica de idas e vindas no tempo que dispensa o didatismo de datas ou referências claras.
A montagem ágil, orquestrada pela trilha sonora pesada de Trent Reznor, faz de ‘A Rede Social’ um filme tenso em grande parte. Mas por se amparar em um pressuposto de relações artificiais, não quer dizer que seja uma história desprovida de humanidade. O diretor coloca um olhar perspicaz sobre seus personagens: se Eduardo é quem aparenta ser o mais humano, preocupado em agradar o pai, Mark, com toda sua frieza, deixa antever que é apenas um garoto que quer atenção.
‘A Rede Social’ se notabiliza por ser o primeiro filme a registrar, tanto em sua história como na linguagem, a geração que vem se desenvolvendo por meio de laços virtuais. Fincher merece destaque não só por ter relatado um episódio, mas por ter captado com precisão o espírito dessa geração.

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