segunda-feira, 2 de maio de 2011

Caso de família moderno



Pense na seguinte premissa: um casal com filhos vive sua rotina normal até que um estranho relacionado ao passado aparece e mexe com a vida de todos os integrantes da família. Certamente você já viu vários filmes partindo desse princípio, uns apostando mais forte no humor, outros carregando na carga dramática, mas que, no fundo, seguem mais ou menos a mesma linha. ‘Minhas Mães e Meu Pai’ é mais um desses exemplares, mas que conta com um diferencial interessante: o casal protagonista é formado por duas mulheres.
Depois que ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ aportou nos cinemas e por pouco não se consagrou no Oscar, Hollywood vem perdendo o pudor em enfocar abertamente a homossexualidade em seus filmes. Mantendo a já tradicional predominância do gênero masculino, os gays homens ainda são maioria nessa nova safra de produções. Indicado ao Oscar de melhor filme deste ano, ‘Minhas Mães e Meu Pai’ é, salvo engano, o primeiro filme a apostar em lésbicas que atingiu esse patamar.
Em um caso raro de felicidade dos distribuidores brasileiros, o título nacional conseguiu se adaptar bem ao filme, talvez até caindo melhor que o original (‘The Kids Are Alright’ ou ‘as crianças estão bem’). O casal central é formado por Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore), que tiveram dois filhos através de inseminação artificial. Já adolescentes, Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson) decidem conhecer o pai biológico, Paul (Mark Ruffalo). Primeiro sem conhecimento das mães, depois com o mútuo consentimento.
Como seria mais que previsível, a presença de Paul na família vai trazer mudanças no cotidiano de todos: o envolvimento dos filhos, o ciúme de Nic e o maior de todos os problemas, seu envolvimento amoroso com Jules. Exceto pela peculiaridade de seus protagonistas, o roteiro elaborado por Stuart Blumberg e Lisa Cholodenko (também responsável pela direção) não traz nenhuma novidade em relação a outras comédias dramáticas centradas em casos de família. É um conjunto de lugares comuns, mas bem conduzido e sem alguns vícios do cinema independente.
O mérito maior de ‘Minha Mães e Meu Pai’ é não tratar o fato de suas personagens principais serem homossexuais como um fardo em suas vidas. Não somos levados a sentir compaixão apenas porque elas assumiram uma opção sexual diferente. O que vemos na tela é um casal como outro qualquer, com suas alegrias, problemas e dificuldades de relacionamento. Essa naturalidade só se perde um pouco a partir do momento em que Paul, o personagem masculino, passa a ser tratado como uma espécie de vilão, um intruso inicialmente simpático, mas no fundo um pouco maquiavélico. 
Como todo filme desse segmento, os atores têm uma grande parcela de responsabilidade em segurar a história. Annette Bening, justamente indicada ao Oscar, tem uma interpretação marcante, sempre segura e incisiva. Julianne Moore e Mark Ruffalo também mostram eficiência e contribuem para que a narrativa se sustente até seu desfecho. Se não é revolucionário, como alguns desejariam, é um filme simpático e que cumpre seus objetivos sem hipocrisia.

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