domingo, 25 de setembro de 2011

Fórmula pronta



Um dos méritos da Globo Filmes ao investir no cinema brasileiro foi fazer os diretores nacionais perderem a vergonha de enveredarem por produções comerciais. Discutir a qualidade desses filmes é outro assunto, mas pelo menos não existe mais aquele constrangimento de apostar em gêneros como ação, comédia romântica ou policial. Afinal de contas, não há pecado nenhum em copiar a indústria cinematográfica mais bem sucedida no mundo. E assim como em Hollywood, há os bons resultados, os medianos e os sofríveis. Se fosse para enquadrar ‘O Homem do Futuro’ em uma dessas categorias, não hesitaria em colocá-lo entre os exemplos positivos.
O filme de Cláudio Torres faz uma mistura de comédia e ficção científica que em nenhum momento esconde suas origens. É mais do que evidente a inspiração em ‘De Volta para o Futuro’, a série clássica dos anos 80 em que Michael J. Fox viajava no tempo e tentava consertar os erros que cometeu. Uma fórmula testada e aprovada pelo público, que tem em sua versão tupiniquim não uma cópia barata, mas um filme divertido e bem produzido. Com defeitos, é verdade, mas, acima de tudo, com personalidade.
No caso, quem viaja ao passado é Zero, um cientista vivido por Wagner Moura que consegue construir uma máquina do tempo. A data escolhida para a viagem é a do baile que mudou sua vida, 20 anos atrás. Naquela oportunidade, Helena (Alinne Moraes), a garota dos seus sonhos, dispensou-o e submeteu-o a um vexame público. Como em ‘De Volta Para o Futuro’, a ideia de consertar uma situação no passado gera uma nova reviravolta, que também precisa ser arrumada e assim por diante.
Dentre os diretores brasileiros atuais, vejo Cláudio Torres como um dos mais promissores. ‘Redentor’, seu filme de estreia, é uma das melhores produções nacionais contemporâneas: inventiva, capaz de dialogar com o grande público e manter uma marca autoral. Ainda que sua produção seguinte, ‘A Mulher Invisível’, tenha sido bem inferior, ‘O Homem do Futuro’ revela uma capacidade que falta a muitos cineastas brasucas: a de saber entreter sem apelar para fórmulas fáceis.
O roteiro tem seus furos, mas consegue dar bom andamento a uma história que seria presa fácil para armadilhas. Por mais previsíveis que sejam algumas soluções, o diretor consegue amarrar bem todas as pontas da narrativa, produzindo situações divertidas sem cansar o espectador. E a dupla de protagonistas colabora em muito para isso. Wagner Moura, que em certo momento chega a interpretar simultaneamente três versões de seu personagem, mostra porque é um dos mais talentosos e carismáticos atores brasileiros. Alinne Moraes também prova que tem mais a oferecer do que a beleza exuberante. 
Seguramente, ‘O Homem do Futuro’ não é um filme que vai ficar marcado na história do cinema nacional. Tampouco é um filme para ser desprezado. Não é quem vai resolver a atual crise de identidade de nossa cinematografia, mas um bom exemplo de que é possível oferecer algo mais à plateia acostumada com as telenovelas.


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