domingo, 18 de setembro de 2011

Frustração melancólica



Lars Von Trier é uma espécie de novo David Lynch. Faz filmes controversos, tem seus adoradores fervorosos e detratores convictos. Eu, particularmente, não me enquadro em nenhuma das categorias. Achei ‘Dogville’ arrebatador, não encontrei nada de interessante em ‘Os Idiotas’ e, apesar da propaganda de várias pessoas, não me dispus até hoje a ver ‘Dançando no Escuro’ (porque ninguém merece aguentar a Björk por uma hora e meia). Mas o trailer de ‘Melancolia’ me encheu de expectativas.
De início, considerei a ideia sensacional. De repente, um planeta chamado Melancolia está se aproximando da Terra e começa a afetar a vida das pessoas. Genial. Na verdade, essa é uma parte da história, que ainda assim manteve a curiosidade, reforçada (pelo bem e pelo mal) pelos elogios rasgados da crítica. Mas já diz aquele ditado que, quanto maior o salto, maior a queda. E foi bem essa a sensação após deixar a sala de cinema, de impacto. Não aquele de nos deixar estupefatos, pensando no que acabamos de ver (tal qual ‘Dogville’), mas o baque de receber muito menos do que se esperava.
A história do planeta imaginado por Von Trier se divide em duas partes, protagonizadas por duas irmãs. A primeira, Justine (Kirsten Dunst) está no dia de seu casamento, aquele que é para ser o mais feliz de sua vida. À medida que a festa avança, contudo, a jovem vai sendo tomada por uma estranha sensação de abatimento e tristeza. Na segunda, Claire (Charlotte Gainsbourg) acompanha com apreensão a passagem de Melancolia pelo céu. Apesar dos rumores de que o planeta pode se chocar com a Terra, seu marido astrônomo (Kiefer Sutherland) garante que está tudo sob controle.
Antes de se iniciar o filme propriamente dito, o diretor faz algo que parece um trailer da própria produção. Um conjunto de imagens semicongeladas dos personagens embaladas por uma bela trilha sonora. Ok, plasticamente pode ser exuberante, mas no conjunto da obra soa como um mero exercício de pretensão de seu megalômano diretor.
Quando a história se inicia de fato, a primeira parte funciona bem. A derrocada de Justine é filmada com uma intensidade invasiva digna de Von Trier, que com poucos recursos consegue levar sua protagonista do paraíso ao inferno sem piedade. Quando chega a segunda parte, porém, é o próprio filme que desaba. A premissa interplanetária, que antes era empolgante, se torna tola e irritante. Tanto quanto a personagem de Kirsten Dunst, que parece em algum momento ter sido mordida por um zumbi.
Em tempos de mediocridade extrema, Lars Von Trier é um diretor necessário ao cinema atual. Polêmico, controvertido, inventivo e subversivo, o dinamarquês representa a esperança de um sopro de vida à geração de realizadores e espectadores que aí está. Mas para isso precisa fazer valer seus predicados na tela. Em condições normais, ‘Melancolia’ deveria transmitir esse sentimento ao espectador. Mas o que restou foi apenas um estranho desgosto.


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