sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O doce sabor da nostalgia



Somente quem viveu os anos 80 sabe o que Steven Spielberg significou. E não estou falando apenas do que ele representa para o cinema, com o feito de ter consolidado o entretenimento juvenil para as massas (com a diferença de que naquela época os filmes tinham conteúdo, tanto artístico como cerebral). Falo da influência que seus filmes e os de seus discípulos (Joe Dante, Robert Zemeckis, Richard Donner, entre outros) tiveram sobre o imaginário de quem foi criança/adolescente naquela época. Durante tempos em que não havia internet ou games virtuais, aquelas produções representavam o escape da realidade, o encanto de quem ainda acreditava em heróis de celuloide.
J.J. Abrams – mais conhecido como o superestimado criador da série ‘Lost’ – faz parte dessa geração. Cresceu vendo crianças e adolescentes lutando contra seres deste ou de outro planeta, sem que alguém pudesse enxergar bullying em qualquer coisa. Ao assistir a ‘Super 8’, fica mais do que explícito o sentimento de nostalgia do diretor. Cada cena, cada personagem, cada citação exala o cinema juvenil spielbergiano. Porém, sempre há um sinal de alerta de que esse tempo passou, como uma voz que insiste em ecoar: ‘não se esqueça, você está em 2011’.
Assim como Quentin Tarantino gosta de recriar em detalhes o cinema lado B dos anos 70, J.J. Abrams fez de tudo para nos transportar a 30 anos atrás. O ano é 1979, a certa altura um rapaz ouve ‘Heart of Glass’, do Blondie, em seu walkman, a última novidade musical. Em uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos, quatro garotos e uma garota fazem um filme de zumbi para participar de um festival. Em meio a uma filmagem, acontece um terrível acidente de trem, que, percebe-se logo, não foi apenas um acidente. Com a curiosidade natural da idade, o jovem quinteto vai procurar descobrir o que aconteceu de fato.
O que se revela a partir de então é uma história que agrega todos os elementos da fórmula eternizada por Spielberg. Tal como em ‘Os Goonies’, temos o espírito aventureiro de um grupo de amigos com todos os seus arquétipos. A exemplo de ‘E.T.’, há a temática sobrenatural, do mistério que vem do espaço. E como em todas as produções correlatas, o inimigo não é aquele que vem do desconhecido, mas os adultos, com seu egoísmo e seu espírito disciplinador.
Em sua primeira metade, ‘Super 8’ é um filme delicioso. Seu diretor consegue equilibrar na medida certa o suspense em torno do acidente e a história humana de seus jovens personagens, sem que se exceda no humor ou na seriedade. A partir do momento que o mistério começa a ser elucidado, o filme vai perdendo ritmo até terminar como mais um blockbuster. É a lembrança de que os anos passaram, você envelheceu e Spielberg virou adulto. 
Por mais que J.J.Ambrams não seja Spielberg, que estejamos no século 21 e que ‘Super 8’ não fuja da previsibilidade, é gratificante ver um filme concebido com tanto coração. Por um momento, é possível esquecer que estamos na era da mediocridade hollywoodiana e nos sentirmos numa matinê em uma velha sala de cinema de rua.


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