domingo, 14 de agosto de 2011

Sangue, ação e escárnio


Se você é daqueles que leva o cinema extremamente a sério, esperando sempre boas atuações, um roteiro inteligente e belas imagens, não precisa nem continuar a ler esta resenha. Porque ‘Machete’ não é um filme para ser levado a sério. Nem um pouco. Quem conhece seu diretor, o mexicano Robert Rodriguez, já deve saber disso. Apesar das virtudes exibidas em ‘Sin City’, seu currículo é conhecido mais pelo caráter lúdico do que pelo talento cinematográfico. Vide ‘El Mariachi’, ‘Um Drink no Inferno’ ou ‘Planeta Terror’.
A peculiaridade de ‘Machete’ já começa pelo fato de ser o primeiro filme na história recente a derivar de um trailer falso. Explicando: quando Rodriguez e Quentin Tarantino fizeram ‘Grindhouse’ (projeto que reuniu ‘Planeta Terror’ e ‘À Prova de Morte’), incrementaram-no com o trailer de um filme sobre um herói mexicano em busca de vingança, na mesma linha gore/trash do conjunto da obra. O resultado final foi tão empolgante que Rodriguez levou a ideia a sério e, em parceria com Ethan Maniquis, deu vida própria ao que era apenas um fake.
O herói que dá nome ao filme é um policial federal mexicano (vivido por Danny Trejo em seu primeiro papel de protagonista) que cai em uma emboscada, vê esposa e filho serem assassinados e é dado como morto. Anos depois, como imigrante ilegal nos Estados Unidos, é contratado para assassinar um senador de extrema direita (Robert De Niro). Na verdade, é mais uma armadilha, da qual ele consegue escapar para então partir em busca de sua sanguinolenta vingança.
O roteiro procura dar uma conotação social à história, focando no preconceito contra os mexicanos e a caça aos imigrantes irregulares. No entanto, ‘Machete’ é um grande pastiche, uma ode aos filmes B de ação. A trama elaborada por Robert Rodriguez pouco importa. A diversão está nas sequências de ação exageradas, em que cabeças são decepadas a rodo e o sangue jorra aos borbotões. A propósito, o título do filme é uma referência à arma utilizada pelo protagonista, um misto de espada e facão. Isso já diz muita coisa.
Como em outras obras suas, o diretor não demonstra nenhuma preocupação com verossimilhança. Pelo contrário, a intenção é explorar o escárnio, sempre extrapolar de modo que aquilo que seria chocante arranque risos. Ou alguém é capaz de levar a sério uma cena em que o personagem arranca o intestino de alguém e o utiliza como corda para empreender fuga de um edifício?
A própria concepção do personagem principal já é uma demonstração de sarcasmo. Quem colocaria como herói um cinquentão cabeludo feio, de bigode, cheio de cicatrizes e tatuagens? Ainda assim, Machete desperta a atração de quase todas as mulheres de quem se aproxima, chegando ao ponto de ser seduzido. Assim é o cinema de Robert Rodriguez, que brinca com os clichês como um adolescente despretensioso. A presença de ícones bagaceiros como Steven Seagal, Don Johnson e Lindsey Lohan confere um charme ainda maior à produção. Se você procura apenas diversão e não tem muitos pudores, seja bem-vindo ao mundo degradante de ‘Machete’.


Aqui o trailer deste 'Machete'...


E aqui o trailer falso que deu origem ao filme...


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