quarta-feira, 1 de junho de 2011

O bom e velho suspense


Quando se fala em uma série literária de sucesso adaptada para a tela grande o temor é inevitável. De imediato, a primeira coisa que vem à mente são catástrofes cinematográficas como ‘Crepúsculo’, ‘O Código da Vinci’ ou os incontáveis ‘Harry Potter’. Mas calma. Já diz aquele velho ditado que para toda regra existe uma exceção, ainda que ela venha de um país frio e culturalmente distante como a Suécia. Não é apenas o estranhamento com a língua e os rostos desconhecidos que fazem a diferença em ‘Os Homens que Não Amavam as Mulheres’, suspense de primeira linha, na trilha daquilo que existe de melhor no gênero.
A comparação com ‘Crepúsculo’ ou ‘Código da Vinci’ não é por acaso. A trilogia ‘Millenium’, do escritor sueco Stieg Larsson, é um fenômeno de vendas, com suas histórias de mistério protagonizadas pelo jornalista investigativo Mikael Blomkvist. ‘Os Homens que Não Amavam as Mulheres’ é o primeiro volume da série, que já teve os outros dois livros adaptados para o cinema, além de originar uma série de televisão. Ainda que não seja tão popular como as outras obras citadas, tem um vasto público a explorar.
Mas, para a nossa felicidade, existem diferenças significativas entre algo produzido e adaptado na Europa e aquilo que o público universal médio está acostumado a consumir.
Quem assumiu a empreitada de levar a história para os cinemas foi o dinamarquês Niels Arden Oplev, nome que, se conhecido dos brasileiros, é apenas daqueles que freqüentam o circuito dos festivais. Se algum figurão do panteão hollywoodiano tivesse tomado a dianteira, dificilmente veríamos na tela a carga dramática e o impacto presentes no filme.
Nele, o jornalista Mikael Blomkvist começa sendo condenado à prisão por conta de uma reportagem contra um poderoso empresário. Ameaçado de perder o emprego na revista em que escreve, aceita a proposta de um milionário para que investigue o sumiço da sobrinha, ocorrido há quatro décadas. Por mais que não haja nenhuma evidência, ele tem certeza que a jovem, então com 16 anos, foi assassinada por um dos membros da família.
Entra em cena então aquele que é o grande personagem de ‘Os Homens que Não Amavam as Mulheres’: a investigadora Lisbeth Salander. Coberta de piercings, hacker exímia e de passado misterioso, a garota é contratada para monitorar o jornalista, mas acaba por ajudá-lo em sua investigação. Paralelamente ao quebra-cabeças para desvendar o crime, o filme explora o drama físico e psicológico da protagonista, envolta em um passado nebuloso e um presente conturbado.
O roteiro segue a cartilha do bom suspense, em desuso no cinema atual, que prefere ludibriar o espectador com sustos, brigas e perseguições. Uma gama de suspeitos, pistas esparsas, trilha sonora climática e a tensão que se prolonga até os minutos finais. Uma fórmula simples, mas que em momento algum nos deixa abstrair da narrativa. Há momentos mais pesados, de perversão e crueldade, que podem causar desconforto, mas são fundamentais à trama. Complexo? Não para quem sabe contar uma boa história.

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