domingo, 3 de abril de 2011

Simples, mas eficaz


Toda pessoa nasce com algum talento. Que pode não ser aquele que acreditamos ser, mas que em algum lugar está lá adormecido e há de despertar uma hora ou outra. Veja o caso de Ben Affleck. Apesar da fama, é ponto pacífico que se trata de um ator sofrível. Mas quando ele decidiu ir para trás das câmeras, vimos surgir um nome promissor na direção. ‘Medo da Verdade’, seu primeiro trabalho, era um thriller competente, porém, reconhecido apenas pela crítica. Agora, com ‘Atração Perigosa’, a sorte lhe sorriu. Além da afirmação reconhecida pelos críticos, o público também respondeu à altura e por pouco o filme não esteve entre os principais indicados ao Oscar.
A despeito do clichê adotado pelos distribuidores brasileiros, o original ‘The Town’ (a cidade) é um título bem mais poderoso e revelador do conteúdo presente no filme de Affleck. A cidade em questão é Boston, tida pelo ator-diretor tão importante como é Nova York para Martin Scorsese. O foco é o bairro de Charlestown, anunciado já na abertura como um proeminente reduto de ladrões de banco. Um desses ladrões é Doug McRay (o próprio Affleck), cérebro de uma articulada gangue local.
O grupo tem suas ações cuidadosamente calculadas, o que não impede que no assalto que abre o filme ele seja surpreendido pela polícia. O imprevisto obriga a gangue a levar uma funcionária do banco (Rebecca Hall) como refém e libertá-la minutos depois. O que ninguém esperava era que a garota fosse vizinha dos bandidos, obrigando-os a monitorá-la para evitar que sejam descobertos. Doug se aproxima da moça, se envolve com ela e entra em conflito com o temperamental James, amigo e comparsa (Jeremy Renner, indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante).
Baseado no livro ‘O Príncipe dos Ladrões’, de Chuck Hogan, ‘Atração Perigosa’ se apoia em alguns clichês conhecidos do cinema policial: o bandido dividido entre o crime e a paixão, o esquentadinho que pode colocar tudo a perder, os investigadores cheios de artimanhas. Apesar de não ter uma ideia original em mãos, Affleck conduz a trama com bastante eficiência, dosando ação, suspense, romance e conflito psicológico na medida certa. É mais ou menos o que já havia alcançado em ‘Medo da Verdade’, mas agora com um roteiro mais consistente e um tratamento mais maduro.
Guardadas as devidas proporções, Ben Affleck tem um pouco do estilo de Clint Eastwood. Ao assumir que sua intenção era fazer um filme de gângster, no estilo daqueles produzidos na década de 30, o diretor usou de um enredo convencional, mas no qual soube valorizar seus detalhes. Seu mérito maior está em transformar situações aparentemente banais em sequências que envolvem o espectador. Amarrando esses fragmentos um a um, ele consegue compor um todo eletrizante, com poucos sobressaltos.
Com um roteiro eficiente e belas sequências de ação, ‘Atração Perigosa’ mostra um diretor em evolução, que demonstra saber o que quer, sem exagerar na pretensão. Bem orientado e sabendo amadurecer, tende a consolidar uma carreira bem mais sólida do que como intérprete.

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